quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Tons Ambíguos



E lá estava ela, largada no sofá, rosto lavado em lágrimas, peito dilacerado em dor. Mesmo vestindo a sua calcinha de renda preta e seu melhor perfume, só conseguiu ser invadida por trás, sem o luxo de ser romantizada como mulher.
Ele saiu ajeitando o membro flácido nas calças e a deixou, sem mais palavras. E crua, ela levantou-se com o sangue escorrendo pelas pernas e pós o batom de mesmo tom. Tentou sorrir, mas estava tão quebrada, e mal amada, e com a maquiagem escura manchada, e feia. Ela poderia continuar com infinitos E.
Desistiu. Saiu daquele inferno com os pés queimando pelo asfalto, naquele fim de tarde de setembro. Mal respirava tamanha a dor. O céu ganhava tons ambíguos. Não conseguia mais chorar. E, ao pôr do sol, sentia que tinha virado bicho.

2 comentários:

  1. o tempo do batom do mesmo tom
    curral dos homens-bichos: membro flácido.

    o luxo romântico da vagina (great!).
    de fato, o cú é ultra-realista...

    O texto de texturas adoráveis e doloríficas
    ela foi imolada e violada (cordeiro de deus?)

    Ps: me lembra um poema de Oswald (flores horizontais, acho) no qual a personagem prostituta finda os versos dizendo: com deus me deito. com deus me levanto!

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