sexta-feira, 25 de maio de 2012

Morena Toada


 "Tanta saudade eu já senti, morena
Mas foi coisa tão bonita
Da vida, nunca vou me arrepender"
Toada - Boca Livre


Morena, não te chamo mais para ouvir minha cantiga. Vou sair só para uma vida aventureira. Seu choro e seu ciúme já não chegam nesse coração sereno. Nossa saudade já não é mais bonita. E essa cantiga vai se esquecendo no vinil. É, Morena, você que sempre esteve no sublime, que sempre foi artista, já não me encanta mais. Não me instiga mais. E aquele carinho, do vem aqui, não cabe mais na viola. Minhas cantigas não são mais tuas. E o Morena, tão poético, tão menino, que lhe dei, quero tomar-lhe. O que sobrou para ti é aquele lenço bordado para chorar com minha partida. Mas eu tenho outros lenços e eu tenho outras moças. É Morena, minha cantiga não será mais tua. Não quero suas lágrimas me acusando do que não fiz. Não quero medir mais meias palavras. Não existem meias palavras na música. Não serei mais teu. Vou me aventurar pelo mundo. É, Morena, você vai virar toada. Vou me aventurar pelo mundo.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Nolita blues


Nolita queria morrer antes dos 30. Como estrela de rock, sem ser mulher  Balzaquiana. Nolita já tinha enjoado de contos de fadas e de cheirar pó no café da manhã. Tinha cansado de procurar o ex-namorado e de sexo à três. Não escutava mais música pop e nem sua mente lhe oferecia o silêncio. Nolita tinha desistido no seu vício em antibióticos e na coleção de abortos na área de serviço. Nolita não lia mais livros de Jane Austen ou chorava assistindo Titanic. Não usava mais batom vermelho ou perfume. Nolita não era mais egoísta ou se quer era outra coisa. Nolita só queria morrer antes dos trinta. Só não queria ver a merda da sua vida escorrer pelo ralo do banheiro. Só não queria se ver chorando no chão em tardes de chuva. Nolita só queria morrer.




terça-feira, 8 de maio de 2012

Texto N° 100

De volta as atividades, este texto demorou de sair pois é um suvenir de um amigo e escritor que admiro, Alex Pitta. Além das mudanças de ares. É um momento de renovar e a agradecer à todos que acompanham!


Eu, planalto

Quando você se foi naquela derradeira ferida, ainda deixei cair sobre seu corpo o desespero de mãos trêmulas. Arrastando-te, elas tocaram o que escorria, tingindo o nada de minha dureza. Eu olhava disformes pedras que me cercam enquanto gritava no vasto verde. E surdo fiquei no meu próprio vácuo vermelho.

As lágrimas turvam a vida que escorrega numa triste valsa de finas gotas tempestuosas e dentes rangem o terremoto num vale outrora alta terra. Caída você está. E sinto o pior chão.

O céu se desfaz do azul ao desenhar um amarelo sol de partida. Sua face era o vento que dançava no meu topo. Agora se esvai no sopro que me desgasta todo dia, eternamente, sobrando sedimentos. E minhas ruínas são levadas para um qualquer-lugar, sempre distante de mim. De você.

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