sábado, 31 de outubro de 2009

Xadrez

Entre os monocromáticos
Casa e espaço, não volto
Apenas preencho em diagonal
Em tênue vazio de ócio
No eco da realeza
Vingança sussurrada aos poucos
Em quarto de hora
Meio do sexto de iguais
De mesma cor ou translúcida
Não mudo do assim e sempre
Me visto do fácil, do mesmo
Não penso do que não respondo
O real responde por mim.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Paraíso


Sentia os pedaços de si ficarem para trás a cada passo e novos pedaços se juntavam. Sem objetivo, apenas com um mapa na mão, pegou sua mochila e saiu. Não era cansaço. Nem se atrevia pensar em fuga. Deixou os arredores da cidade, limpou os pulmões do ar que lhe comprimia.
Pediu carona na estrada, sentiu o cheiro do eucalipto no lugar da velha vegetação. Andou um pouco mais, viu a relva e orvalho. Virgens. Fez amigos, aprendeu a tocar gaita. Melodias jamais repetidas. Ficou bêbado de licor ou fez licor para bêbado. Sorriu em intimidade para a sua neguinha. Apenas um único dia. Andou mais, andou até suas pernas tinirem de caimbra. Só queria saber até onde poderia ir.
Sem aviso. O céu lhe engolia. Viu a grande linha, azul em diversos tons. Quis chorar. Ele havia descoberto. Seu momento pleno, com o vento lhe cortando a face e o sol lhe machucava os olhos. Era o fim. E não havia nada. Encontro do eco.
Finalmente, entendeu. Em sua busca ou não, seu conflito com o mapa, viu a relevância. Era a solidão alegre, daquelas que só vem uma vez. Então ele podia voltar. Lembrou-se, daquilo que demorava a aquecer e sempre esfriava depois. Palavras que ainda estão lá.
Não, ele não podia voltar. Ele queria voltar.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Três Marias

Leão
A moça, mocinha. Agora miúda, mal tinha saído do seu milésimo de eternidade do universo. Ela, pequena, se veste em fantasias, daquelas clássicas que os pais contam na hora de dormir, se é que contavam. Se roupava em sonhos, vendidos em feiras, em vitrines brilhantes, coloridos em rosa, azul e branco.
Era até sagaz, a menina, mas já estava presa, tecida na roca de tear da Bela Adormecida. Enfeitada em pérolas, príncipes, em para sempre. E de lábios lívidos e puros, sem entender já especulava sobre o beijo. Esperava o perfeito.
E continuou naquele mesmo lugar, acima das nuvens. E via mais, via estrelas.
Aquário
Balançava-se em astros de Vênus, Marte e Júpiter. Queria a Lua, o sol lhe roubava foco e suspiros. Perdia-se de bocas em bocas, escolhia algumas, desejava outras. Experimentava futuros reis, como também sapos.
É moça, talvez não sinhá, com face de romântica. Buscava os amores, sempre eles, aqueles que arrebatam e preenchem, mesmo que continuasse vazia. Já vivera poucos, o primeiro, um talvez segundo. Sempre em busca do próximo, desejando que o último não fosse realmente o fim. Só queria o único.
E se refletia em contos de fadas, meio em filmes, até mudos, desenhos, livros dos mais medíocres ou até como Julieta. Era broto de flor. Era apaixonada. Era.
Virgem
Cobre o leito com a colcha cheia de utopias. Amarra em signos de água e terra. O está romance morto.
Os dias se arrastam em mormaço do céu nublado. O calor subia, espalhava a frustração em cômodos da casa. Sem barulho.
A mulher de Lua em Câncer, mais moça do que nunca. Ainda sobrara a princesa, vestida em memórias do sabor do leite com chocolate. Só descia amargo.
O rei no laço do seu anelar dorme, sai e deixa o vazio cada vez mais vazio. E na ausência, ela se consome no eco, some em si. Não havia príncipe. Até havia amor, o platônico não.
Partida em cacos, ainda espera em erro. Espera pelo que não virá e assim, escorre por seus dedos.