sábado, 27 de fevereiro de 2010

Me transborda

Vem de longe, bem
Chega de mansinho
Trás a brisa boa da saudade
E pinta minha pele
Seda carmim bordado por ti

E me derreto em seu mel
E me embalo em sua fumaça
E te encanto com seu próprio encanto

Não é poema de amor, bem
Sopro o adeus para ti
E me deleito uma única vez.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Amor, vem e não vai

Quando te conheci, amor, eu era a irreverente e querido, você era o moralista. Para quê mentir, meu bem?
Meus cabelos eram pintados de verde, andava com o jeans desfiado e as camisetas cheias de protestos que nem mesmo sabia de quê. Fumava um ali, bebia outro cá, ia levando e queria ser levada. Sabia amar, sabia rir, e não queria mais, só o mundo de gente que passava por mim. E tinha você, baby, sempre no canto, com aqueles óculos de armação grossa e sempre com um livro de algum filosofo louco, com o currículo brilhante e os cabelos cacheados cheios de cuidado. E aquele olhar reprovador, de quem sabe mais que os outros e sabe que tem mais futuro, julga, julga, até não poder mais. Mas, paixão, você podia, e como! E aos poucos levou meu coração.
Tenho certeza que você não percebeu, anjo, mas levou minha vida também. E é verdade, quer eu goste, você goste ou não. Seja esta uma conversa de mal amada. Seu olhar reprovador, seu jeito de me fazer obrigar a dizer sim e ainda pensar que era escolha minha, sua voz tão firme e ao mesmo tempo tão baixa fazia das minhas vontades aparência de erros. É, maridinho, sabe ser cruel. E depois, de tantos anos de fala, o não seu e o sim meu, do estável, do igual, virei uma mulher comum, dona de casa, com mãos calejadas de alvejantes, que a melhor das conversas é sobre a novela do horário nobre e em dias bons, sobre como gostaria de ir naquela peça, no teatro tal. E você apenas acena, já que não iremos mesmo.
Talvez, a culpa seja minha mesmo. Sempre fui fraca e suas palavras, coração, acredito que foram doces como mel. Você vai, agora, cheio de pose com seus estudos, com seu visual de homem moderno sem filhos, daqueles que tira aliança para sair de casa, não avisa quando chega, que tem muitos amigos para beber, sair, jogar. Com mil amantes e a esposa em casa com a comida pronta e a janta lavada. E como tudo é fácil e tão perfeito.
Saiba, não te culpo, benzinho. No fim, você foi o mais interessante. Se suas vontades ásperas me atingiram não foi por que você quis, foi porque eu não conseguia lidar. E agora, fico aqui, preparando o jantar e olho pela janela, esperando se o cheiro do tempero te trás de volta. Ou em dias mais esperançosos, me devolve de ti.

sábado, 6 de fevereiro de 2010