domingo, 31 de maio de 2009

Desculpa


Desculpa é a palavra mais difícil de dizer. Afinal, é admitir que você falhou ou errou completamente com outra pessoa e ainda pessoas que amamos, pois não nos damos o trabalho de pedir desculpas a quem não amamos.
Mas o que fazer quando precisamos pedir desculpas por ser como somos?
É simplesmente impossível. Nos tornamos a causa do sofrimento dos outros, damos a eles solidão e ainda queremos nos apoiar neles. É muito egoísmo. Mudamos e não nos reconhecemos mais de maneira a ter vergonha daquilo que nos tornamos. A verdade é, não iremos pedir desculpas por aquilo que somos, mas por aquilo que nos tornamos.
Esquecemos daquilo que formava nosso ego anterior e só sobra o vazio. Passamos a tomar atitudes auto-destrutivas. E até em quem mais confiamos perde a crença, o que doí e machuca.
De verdade, pedir desculpas é admitir precisamos de concerto, é tentar recuperar alguém que você mesmo afastou. Desculpas é tentar voltar... Mesmo que o caminho não tenha volta.


Por isso, eu peço desculpas a você.
Eu ainda tenho sonhos, eu ainda sou como você. Por favor, acredite em mim. É só disso que eu preciso.



Eu sigo símbolos dispersos enquanto forço uma expressão feliz. (Honey & Clover)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Destino de Princesa


Nossa Princesa estava apaixonada. Como toda e qualquer princesa deveria estar: os olhos cheios de brilho, respingando amor. Ela não era loira, não era rica e nem tinha a voz mais bela, sua aparência era bem comum. Ainda sim, era uma garota boa, daquelas para namorar. No entanto, naquele momento ela era a mais bela, resplandecente. Havia conhecido seu Príncipe à uma semana, os sete dias mais felizes de sua vida e no meio desses dias, descobriu que o amava com todas as batidas aceleradas de seu coração. Meio precipitada, talvez, não queria mais apenas a amizade do Príncipe e resolveu expressar a ele seus sentimentos. Sonhava em ser correspondida. Pena que o tempo não era o certo.
A Princesa não tinha sorte.


Nosso Príncipe havia passado uma semana em puro sofrimento antes de encontrar a Princesa. Ao contrário do normal, estava apaixonado pela Bruxa, mas seus sentimentos haviam sido rejeitados. Com o coração partido em mil fragmentos, passou uma semana inteira desejando ser amado, que alguém sentisse sua dor e o compreendesse. Era uma melancolia só. Então ele conheceu a Princesa. Destino? Acho que não. Nesse mesmo dia, a Bruxa resolveu voltar atrás e aceitou seus sentimentos. Conhecidencia? Muitos dizem que não. Uma semana depois, a Princesa pronunciou um efervescente "Eu te amo". O Príncipe a olhou triste, se tivesse sido uma semana antes, se o tempo estivesse certo.
A Princesa não tinha sorte.


No fim, a Princesa derrama rios de lágrimas. Não queria ser apenas amiga do Príncipe, mas não podia ser mais que isso. Soluçava de raiva. Na realidade não existia o justo "e viveram felizes para sempre"? O Príncipe não deveria ficar com a Princesa? Aparentemente, não.
A Princesa não acreditava mais em destino.



domingo, 17 de maio de 2009

Lembrança de Verão

O verão sempre fora sua estação favorita, pensar na forma com o infinito mar azul correspondia ao brilho do sol. Como o respingo da água batia em seus cabelos, molhava seus pés e sorria para mim da forma mais inocente possível. Porém de lembranças não podia viver mais, já havia passado a hora de esquecer. E infelizmente, hoje chovia. A cidade litorânea perdia seu sentido.
Me questiono por que estava chovendo?
Porque o ser humano faz promessas que não pode cumprir?
E por que quando nos apaixonamos teimamos em pensar que é destino?
Não adianta nada me perguntar. O buraco em meu peito não irá sumir, apenas se consumir na dor de não tê-la ao meu lado. De jamais poder tocar seu rosto e ver suas bochechas rosadas. E de jamais abraçá-la até dormir, ela sempre dizia que estava cansada com ternura. É, eram nossas noites.

As lágrimas não caem mais de meus olhos. As vezes estamos tão tristes que não temos mais como chorar. Mas ainda podia sentir o cheiro do verão, o cheiro dela impregnado em meu corpo. Fecho os olhos e digo adeus.
E em algum lugar ela estará me dando o seu sorriso mais honesto, o sorriso que eu mais amo. O sorriso preso ao verão ou um verão preso a um sorriso.



I cut my long baby hair. Stole me a dog-eared map. And called for you everywhere. (Flightless Bird, American Mouth - Iron & Wine)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sangue no Zoio




Lá estava uma garota infeliz que encontrou algo para esquecer de sua realidade, um vídeo game.
Era emprestado e por um acaso estava na casa dela. Então ela encontrou o jogo, o qual sempre quis jogar e começou, se envolveu tanto que a única coisa que falava era sobre isso, só pensava nisso, só respirava isso, deixava de fazer tudo para isso, até estudar para a prova.
Como o vídeo game não era dela, a garota estava tentado terminar o jogo em uma semana, uma tarefa quase impossível.
Ou melhor, impossível.
A garota chegou em um lugar onde havia um grande desafio, um chefe. Ele nem era tão forte, mas mesmo com o detonado e treinando os personagens, mesmo depois de QUATRO HORAS tentando, não conseguiu. E ela tentou, desejava muito, pois a melhor cena de todas estava a alguns segundos depois do monstro.
Não conseguiu. Falhou.
E frustrada, ela escreve. Impotente, ela lamenta por saber que não conseguirá terminar de jogar. E com raiva, com sangue no zoio, com lágrimas nos olhos...
Ela gritou: "Final Fantasy Pau no Cú, Rola no Cú!"



I don't wanna cry no more. (Cry no more - Mika Nakshima)


sexta-feira, 8 de maio de 2009

Oh Flor!

Olhe para mim!
Apenas desabrocha para a luz do sol
Sorrindo, cantando e enfim
Colore o cenário monocromático
Mas tu esqueces do apático
Que te dá forças sem ser visto
E segura suas pétalas depois de caídas.


I thought I lost you somewhere.But you were never really ever there at all. (Here is gone - Goo Goo Dolls)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sorriso Pintado

Ela viu-se refletida no espelho. Não podia sorrir.
Uma lagrima escorreu pelo seu rosto. A sensação de vazio e desgosto tomou conta de seu corpo ao deixar um sabor amargo na sua boca, o desprezo. Não suportava aquilo que o espelho lhe mostrava. Aquilo que havia mostrado por toda a sua insignificante vida. Sua incapacidade de ser amada.
Com seus olhos de purgatório revelou a teia de mentiras que produzira, escondendo a monotonia da sua fraqueza, de sua obsessão por não existir. Fechou os olhos em demasia, o gosto de vomito subiu por sua boca, mas nunca chegou a cuspir tudo que a envenenava por dentro. Virou-se de costas e sorriu. Uma felicidade Falsa.
O antagonismo de seus sentimentos não queria deixar aquele quarto, o esconderijo, entretanto não desejava afogar-se na prisão da segurança. Afinal, seria violentada com perguntas que não tinham respostas por seus pais. Suspirou e saiu. A culpa corroia seus sentidos, os embriagando com o ódio, o simples ódio, um ódio soldado em sua alma, por quem havia lhe atirado ao mundo, simplesmente por ter tê-la feito viver.
Riu ironicamente do seu egoísmo.
Encontrou-se com todos que era obrigada a ver todos os dias no mesmo local, simplesmente por convenção cartesiana de organizar a vida de pessoas em classificações e etapas. E com seu cinismo perfeito discutia como o mundo era egoísta. Hipócrita! Ainda assim, todos eles lhe admiravam e a conduziam com respeito. Grande Sofisma.
Ela sabia talvez muito mais que qualquer um ou menos que ninguém, que existiam pinturas belas sobre as pessoas. Artistas de um único palco. Ela não era desse jeito?
Só que ainda era uma garotinha. Ansiava por atenção e carinho. Não havia. Ansiava por proteção. Não havia. Ansiava por um brinquedo. Não havia. Ansiava conhecer tudo. Não podia. E mais do que tudo desejava ser mulher. E nunca conseguiria.
O muro que colocou em torno de si mesma a protegia das invasões, qualquer que fossem, dos outros de rosto pintado. A solidão em suas relações era permeada pela futilidade e uma competição que fingia participar. Uma disputa para ver quem era mais perfeito no meio de tantos imperfeitos.
No entanto, já tentara abrir-se para alguém, talvez para muitos, talvez para ninguém. Quando olhos como espadas a cercavam e a julgavam com indolência, o primeiro que mudava a pintura para uma gentileza afagava-lhe os sentidos, mesmo por um instante. Embriagava-se como uma droga por esses míseros momentos e carregava isso na memória, mesmo sabendo como isso só a tornava mais criança.
Algumas vezes tentou abrir as fechaduras de si para esses seres mais amáveis. Nunca conseguiu. No ultimo instante fechava-se novamente com medo das mazelas de seu coração poderiam corromper as pessoas gentis. Não, era mais uma mentira, só não queria perceber a verdade inevitável, nunca seria amada.
E sentada em um lugar que ninguém nunca lhe acharia percebeu o que no fundo já sabia. O infortúnio estava em si.
Quem não conseguia se amar era ela. Cada pedaço do seu corpo ansiava por uma aprovação dela e para isso precisava da aprovação de todos. Era um ciclo vicioso. A pessoa que havia tornado-se era conseqüência de suas escolhas e a solidão era consigo. Não suportava coexistir com o mundo. Entretanto, o infame era a culpa ainda maior que se alastrou no oceano da alma, na praia do seu estomago.
Tentou limpar as lagrimas e controlar o choro. Estava histérica, mas ninguém podia ouvi-la. Respirou fundo. Precisava de algo para sentir-se vida. Algo para que conseguisse suportar o delito de ser quem era.
Levantou-se, correu, fugiu.
E com a droga da sua ansiedade colocou-se em uma situação inusitada, mas que por um instante a fez sentir-se viva. Encontrou um homem, nem sabia o seu nome. Ele possuía uma aparência agradável e petulante. Pintou um sorriso em sua face e deixou-se levar pela ignorância da sedução. Uma ignorância enjoativa.
Pela primeira vez seu corpo foi explorado por outra pessoa. Um ninguém ou aquele que a salvaria da culpa de odiar-se. A garota olhou para o teto, ele era todo branco e tinha algumas teias de aranha. Sentia um nojo misturado com um calor, mas não tinha muita vontade de fazer qualquer coisa, apenas foi subserviente. Como a maioria. E como uma vadia, levava-se ao desespero da coerção física para se auto-afirmar.
E no meio de tudo aquilo sorriu, a aranha estava andando pela teia.
Quando chegou a seu quarto, seu esconderijo desmoronou. Sentia-se viva e porca. Caiu de joelhos no chão e chorou lagrimas vermelhas, como o sangue que haviam ficado naqueles lençóis. Era vadia e era mulher. Sabia que suas atitudes eram destrutivas, mas isso lhe trazia um sabor delicioso à boca.
Ela se arrependeria? Talvez. Talvez já estivesse. Não tinha certeza. Finalizara a chance de ser amada, estava suja. Em certo ponto aquilo lhe trouxe liberdade, não precisava mais se afirmar na sociedade. Não precisava ser uma mulher decente, apenas mulher.
Enquanto as lagrimas caiam pelo chão sentiu a garotinha deixar-lhe. A dor era quase insuportável. Naquele momento descobriu que a amava, a pura garota que era tão gentil que não desejava prejudicar ninguém, pelo contrario amava a todos. Ela era linda e só precisava que lhe dessem uma chance. Só que a mulher não era gentil o bastante para ceder aos encantos de uma pessoa tão pequena e frágil.
Secou a ultima lagrima e jurou nunca mais chorar. Guardaria a memória daquela que fora um dia e aproveitaria para ser quem era agora. Alguém que tinha a permissão de mentir e pintar-se. Alguém que tinha certeza que não seria amada, mas que não por ser quem era. Sentiu-se realizada, havia expirado seus crimes com um fantoche que havia os carregado.
Ela tinha permissão de amar, mesmo sem ser amada. Talvez isso fosse ser mulher.
Ela viu-se refletida no espelho. Já podia sorrir.


Catch the weel that breaks the butterfly. (Falling Down - Oasis)

sábado, 2 de maio de 2009

Viúva Negra

A Viúva Negra é vista como a mais venenosa.
Ela seduz o macho para sua teia com sua beleza negra e inebria seus sentidos através de uma arrebatadora paixão. Totalmente inerte e embriagado, o macho apenas deleita de um breve momento de prazer sem perceber que o próximo movimento será fatal.
Após a cópula, satisfeita, a Viúva Negra come o macho, literalmente. Destroí lentamente aquele que lhe dá prazer.
Em um pensamento precipitado, a Viúva Negra é traiçoeira. O tipo de mulher fatal, a puta, aquela que busca a própria satisfação. E por ser assim, seria considerada apenas mais uma prostituta comum, aproveitadora.
Entretanto, em uma segunda vista, a Viúva Negra esconde uma figura que não rompe com padrão nenhum. Ela apenas escolhe um caminho mais fácil para lutar contra a decepção, ela não se ilude com o ideal de vazio preenchido. Por ser Viúva e por ser Negra, ela sabe que todos são seres solitários, então apenas abusa de sua solidão.
Quem não deseja ser como a Viúva Negra? Ela prefere não pertencer e nem possuir nada, pois ela compreende, a dor de perder tudo é maior que a dor de se despedaçar.



Disarm the dream tickler. In the constant moment. (A Little Pain - Olivia Lufkin)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Síndrome de Maysa, as virgens suicídas II [2]

Na minha tentativa de fazer um post pequeno e de jogar minhas lamurias em algum lugar, resolvi escrever isso. Porém se alguém quiser ter um apanhado geral, olha o blog de Vanny que entenderá muito melhor do que estarei falando.
O vazio existencial preenche minha vida, não é sempre, mas é cíclico.
Quando estou dominada pelo tédio, carente de atenção e simplesmente sem nenhuma preocupação, além da dor do meu egocentrismo fico deprimida. Então, encontro mais duas garotas na mesma situação que a minha, o que fazemos? Nos juntamos em cinco horas para lamentar as nossas vidas e nos sentirmos incompreendidas. E secretamente encontro o túmulo perfeito e poético, a politécnica. Afinal, suicídio de artista tem que ser poético. Ainda mais que o caixão seria branco.
O estranho é: encontrar pessoas com a mesma dor que a sua, lhe dá alguma satisfação. Mesmo momentânea. Lamentar não ter nascido nos séculos XVIII e XIX para viver um romance de perfumaria ou de namorar para segurar a mão do amado para subir no ônibus quase perdido, faz perceber que ainda existem pessoas pesando igual. E em um milésimo de segundo sorri da minha tristeza para então, sofrer do meu riso.
Talvez isso não signifique nada. Como minha melhor amiga diz: "Parece que você gosta da depressão. Você gosta de um drama."
Se eu realmente gosto de um drama, só prova que sou estúpida. Quem provocaria o próprio sofrimento? Por isso eu digo, tenho síndrome de Maysa: quando está tudo bem, eu mesma me saboto.



Meu mundo caiu. E me fez ficar assim. (Meu mundo caiu - Maysa)