terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Aquele ou apenas dia

Um passo, apenas um de decidir-se entre o nada de ficar e nada de seguir adiante. De frente a uma avenida de asfalto negro, fervendo dos carros que passam tão rápido quanto balas e reluzem nos brilhos da cidade, que deixam um vácuo que deslaça o equilíbrio.
E ali, naquele ponto, não sabe se deve atravessar por todos aqueles obstáculos, as quatro faixas por tantos carros a mil por hora, para chegar a um outro lado, outro impossível de denoninar ou distinguir, só outro. Ou se vê seguindo em frente, pelo passeio comido dos passos de vários eu que perpassam. Soa tão sem sentido.
Meio caminho da escolha, não há bonito ou feio, ela ou ele já estará lá, ou ficou, ou foi, ou vai voltar ou apenas vai. Divaga-se em Dadaísmo, em paradoxos e fantasma, daquele segundo eterno de não saber se o corpo pensa, sente ou ama.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Pedaço de Dezembro

Escolhi me sentar no canto do restaurante. Estava um dia bastante quente, tanto que prendi meu cabelo em um nó. Bebi um gole de agua, que desceu seco. Me encostei na cadeira e fechei os olhos, as luzes já começavam a me incomodar. O tempo passou e eu não senti.
Ele chegou e me beijou no rosto, estava com aquele cheiro almiscado de colônia importada e sua calça bem passada. Começou a falar de banalidades e eu respondi, pelo menos tive a dignidade de disfarçar as respostas mêcanicas. Sempre as mesmas, como está? Bem. Onde passará o feriado? Em casa, preciso terminar a monografia. Você é tão compenetrada, sempre gostei disso em você. E assim vai, até chegar na conversa sobre saudades e romances. E era por isso que ele estava ali mesmo.
E enquanto ele contava histórias sobre as possíveis mulheres que transou, flertou e namorou nos ultimo ano, que provavelmente eram mentiras. Eu sabia, o conhecia melhor que ninguém e sabia que se tivesse vivido metade do que diz ter vivido não estaria comigo, afinal, nunca havia sido sua companhia favorita para ele perder uma noite inteira. E enquanto ele continuava, eu mexia meus pés para aliviar a dor dos sapatos apertados e mexia no cabelo, estava muito calor.
E ele parou um segundo, e fixou os olhos em mim esperando alguma reação de paixão. Eu quis rir. Mal ele sabia que eu já havia dado para tantos outros e só estava ali, naquela bendita noite, porque meus sapatos em incomodavam e estava me sentindo feia para dar para o próximo da fila e ele, coitadinho, estava lá disponível para mim. Para me acalentar e me chamar de amorzinho, e depois, inventaria qualquer desculpa e fugiria em direção a uma nova fuga.
E ele continuaria lá. Ou talvez eu que estivesse, já não sabia mais. Apenas sei que me levantei da cadeira, sussurrei uma obscenidade em seu ouvido e o beijei. E foi tão cheio de mormaço, aperto e tédio que fui embora, talvez definitivo.
Por sorte, assim que o deixei e atravessei aquele restaurante cheio, começou a chover. Fraco, depois torrencial e levou todo o mormaço embora. Então tirei meus sapatos de salto agulha e pisei descalça no asfalto. Meus pés despidos se banhavam com a chuva.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Passos

Desvencilhar das correntes das águas

Da navalha dos oceanos

Expõe feridas contra o obvio

Dos calos de pés cansados

E assim, minhas palavras pairam

Entre a esperança de sair da terra

E o desespero de perder-se no mar.

domingo, 22 de novembro de 2009

Negrito da Dor

Minha imaginação pueril não permite ver a reação se alguém pudesse me ver agora. Qualquer um. Não sei por onde começaria a olhar, talvez pelos meus olhos, mesmo que eu mal possa ver.
Sim, meu olhos. A expressão lágrimas de sangue cabe perfeitamente, já que as pequenas agulhas sem linhas perfuram a pele das minhas pálpebras, tocam o glóbulo e no esquerdo a íris. Não posso ver com esse olho. E o contato de piscar ou simplesmente fecha-los para me entregar ao sono provoca o sangue que saí e se espelha pela minha face. Porém, não há agulhas apenas nos meus olhos, minha boca é praticamente costurada, só consigo balbuciar poucas palavras com as pequenas feridas que já criaram cicatrizes, as quais não sangram mais. Meus lábios já não tem mais coloração.
Há pregos no meu nariz, mal respiro. Como há pregos por todo o meu corpo, não posso sentar, andar ou deitar sem sentir o mínimo de dor, ou sair pequenos bolsões de sangue de mim, que se espalham pelo cômodo escuro e sem objetos. Assim, os pregos, agulhas que cobrem todo o meu corpo me ferem menos.
Acho que perguntariam, você nasceu assim? E minha memória me engana, a retalhos vagos e não me vi crescer, só lembro da constante dor que carrego sobre minha pele, desde sempre. E dentro do meu corpo, sim, dentro. Um desses retalhos de memórias foi a vez que vomitei e vários pregos saíram pela minha garganta, cortando as paredes e se prendendo ainda mais em mim.
Talvez, se tivesse direito a realizar um desejo seria retirar os pregos de diversos formatos e tamanho das solas dos meus pés. A cada passo dado, os pedaços de metais entram mais na minha pele e nunca param. Mais e mais. E fico sem andar, imóvel, preso.
Já desisti de pedir o fim dessa dor. Só há duas alternativas, vivo com essa ínfima dor ou retiro esses males e morro com o sangue do meu corpo derramado pelo chão, invisível para qualquer um.

sábado, 31 de outubro de 2009

Xadrez

Entre os monocromáticos
Casa e espaço, não volto
Apenas preencho em diagonal
Em tênue vazio de ócio
No eco da realeza
Vingança sussurrada aos poucos
Em quarto de hora
Meio do sexto de iguais
De mesma cor ou translúcida
Não mudo do assim e sempre
Me visto do fácil, do mesmo
Não penso do que não respondo
O real responde por mim.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Paraíso


Sentia os pedaços de si ficarem para trás a cada passo e novos pedaços se juntavam. Sem objetivo, apenas com um mapa na mão, pegou sua mochila e saiu. Não era cansaço. Nem se atrevia pensar em fuga. Deixou os arredores da cidade, limpou os pulmões do ar que lhe comprimia.
Pediu carona na estrada, sentiu o cheiro do eucalipto no lugar da velha vegetação. Andou um pouco mais, viu a relva e orvalho. Virgens. Fez amigos, aprendeu a tocar gaita. Melodias jamais repetidas. Ficou bêbado de licor ou fez licor para bêbado. Sorriu em intimidade para a sua neguinha. Apenas um único dia. Andou mais, andou até suas pernas tinirem de caimbra. Só queria saber até onde poderia ir.
Sem aviso. O céu lhe engolia. Viu a grande linha, azul em diversos tons. Quis chorar. Ele havia descoberto. Seu momento pleno, com o vento lhe cortando a face e o sol lhe machucava os olhos. Era o fim. E não havia nada. Encontro do eco.
Finalmente, entendeu. Em sua busca ou não, seu conflito com o mapa, viu a relevância. Era a solidão alegre, daquelas que só vem uma vez. Então ele podia voltar. Lembrou-se, daquilo que demorava a aquecer e sempre esfriava depois. Palavras que ainda estão lá.
Não, ele não podia voltar. Ele queria voltar.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Três Marias

Leão
A moça, mocinha. Agora miúda, mal tinha saído do seu milésimo de eternidade do universo. Ela, pequena, se veste em fantasias, daquelas clássicas que os pais contam na hora de dormir, se é que contavam. Se roupava em sonhos, vendidos em feiras, em vitrines brilhantes, coloridos em rosa, azul e branco.
Era até sagaz, a menina, mas já estava presa, tecida na roca de tear da Bela Adormecida. Enfeitada em pérolas, príncipes, em para sempre. E de lábios lívidos e puros, sem entender já especulava sobre o beijo. Esperava o perfeito.
E continuou naquele mesmo lugar, acima das nuvens. E via mais, via estrelas.
Aquário
Balançava-se em astros de Vênus, Marte e Júpiter. Queria a Lua, o sol lhe roubava foco e suspiros. Perdia-se de bocas em bocas, escolhia algumas, desejava outras. Experimentava futuros reis, como também sapos.
É moça, talvez não sinhá, com face de romântica. Buscava os amores, sempre eles, aqueles que arrebatam e preenchem, mesmo que continuasse vazia. Já vivera poucos, o primeiro, um talvez segundo. Sempre em busca do próximo, desejando que o último não fosse realmente o fim. Só queria o único.
E se refletia em contos de fadas, meio em filmes, até mudos, desenhos, livros dos mais medíocres ou até como Julieta. Era broto de flor. Era apaixonada. Era.
Virgem
Cobre o leito com a colcha cheia de utopias. Amarra em signos de água e terra. O está romance morto.
Os dias se arrastam em mormaço do céu nublado. O calor subia, espalhava a frustração em cômodos da casa. Sem barulho.
A mulher de Lua em Câncer, mais moça do que nunca. Ainda sobrara a princesa, vestida em memórias do sabor do leite com chocolate. Só descia amargo.
O rei no laço do seu anelar dorme, sai e deixa o vazio cada vez mais vazio. E na ausência, ela se consome no eco, some em si. Não havia príncipe. Até havia amor, o platônico não.
Partida em cacos, ainda espera em erro. Espera pelo que não virá e assim, escorre por seus dedos.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Roda Gigante


Devagar, quase parando, davam voltas em um círculo sem fim. Não sabiam quanto tempo duraria o momento. Inerte e completo. Naquela Roda Gigante em pleno verão, eles se encontravam e encontravam, totalmente perdidos.
Havia sintonia, como amigos e como amantes. Presos no tempo ao impedir o fluxo de suas paixões. Iludidos na tentativa de romper algo inevitável. Felizes por crer, afinal é o papel do tolo. Na figura mais frágil, miúda e infantil, o medo de perder o próximo retrato se personificava. A menina quase mulher. Ela fechava os olhos rápido e voltava a abri-los. Piscava infinitas vezes.
Via seus amigos. Não, amigos era uma palavra muito pequena para descrevê-los. Eram almas gêmeas, divididas em quatro ou cinco partes, se isso pudesse existir. Eles acreditavam, sem entender de espiritismo ou qualquer outra coisa, não entendiam de nada. E Assim, continuava a piscar e gravou em sua memória através do véu de suas lembranças.
O bolo na garganta de nervosismo, o cheiro almiscado do pescoço dele, a risada confortante do outro, a cor brilhante dos cabelos da mais bela, a sombra do pôr do sol em seus corpos. Guardava. Tatuava em sua pele e revelava em suas entranhas. Piscou. Estava montando seu álbum de fotos.
E com o medo, vem a melancolia. Cedo ou tarde, mas chega. E ao abrir a janela de vidro, o vento úmido do mar invadiu e trouxe consigo o efêmero. Mesmo ali no eterno, no imutável perfeito e na felicidade plena não podiam impedir. A Roda Gigante iria parar e eles iriam descer, já sabiam, só não queriam perceber. A menina sorriu triste, aquele era o último momento juntos por inteiro.
Enquanto a brisa preenchia e desenhava, a pequena piscou, tantas vezes que seus olhos lacrimejaram. Eles riram juntos, eram quase o sopro do próprio vento. Ela olhou, viu as cores, os detalhes, os amores. Olhou e fechou os olhos, sem tornar a abri-los. A Roda Gigante ainda não havia parado, talvez tivessem alguns minutos. Entretanto ela decidiu não esperar. A eternidade em troca de sua despedida.

Inspirado no volume três de Honey & Clover.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

sábado, 19 de setembro de 2009

Jogo de Azar

Ganhei uma bolada de dinheiro na aposta do trabalho. Usei aquela velha tática de estatística, um pouco de sorte e faturei a graninha. Daquelas boas, que dá gosto de gastar.
No entanto como qualquer idiota, logo qualquer homem, resolvi abusar da sorte. Era um cara de azar, sempre fui. Nunca ganhei nem no Par ou Ímpar. Pois bem, se aquele era meu dia de sorte iria usurpar dele o máximo. E assim o fiz.
Reuni uns amigos em casa, alguns antigos e outros nem tanto, umas gatinhas. Coloquei aquela MPB clássica, até aquele sambinha de roda e deixei me embalar. Estava abençoado, até achava que iria conquistar aquela moça que olhava para mim molhando os lábios na taça de vinho.
Sugeri um jogo de cartas. Muitos não toparam, ficariam só como expectadores. Insisti e consegui alguns jogadores. O que iríamos jogar? "Buraco" um sugeriu. "Não, não, muito batido" responderam. Queria um jogo de apostas, algo para ler o outro, para entender suas falhas. "Poker" falei.
Estava resolvido. Apostamos algumas fichas, perdi algumas, nada demais. Ganhei outras, especialmente aquela vitória com um Flush. Saíram alguns jogadores. Eu ainda insistia, mas meus pares não davam mais conta.
Sobrou um único adversário, olhei para ele e sua pilha de fichas. Não ia me abater, era tudo ou nada, minha ultima chance. Se não ganhasse agora ia ficar endividado, era a última. Usaria de tudo para ganhar. Ele deu as cartas. Olhei. Apenas um par. Droga! Estava tudo perdido.
Respirei fundo, calma, ainda resta um truque. Sorri presunçoso, arrastei todas as minhas fichas para o centro da mesa. Os lábios dele tremeram, o medo era evidente. Estava no papo. Entretanto, ele arrastou as fichas. Senti o suor escorrer pelo meu rosto, não iria me abater. Eu vi o medo no rosto dele.
Ele virou suas cartas. Deus! O Full House dele esmagou meu mísero Par.
Dei um gole gigante na bebida, cheguei a ficar tonto. Parece que a sorte tinha me abandonado mesmo. Sorri, não podia sair tão derrotado. "Uma amistosa, topa? Sem apostas" pedi. Meu adversário assentiu..
Tirei as cartas. Perdi o fôlego. O susto veio, logo em seguida a raiva . Bati minha mão na mesa com força, derrubando um copo com Wisky. Depois ri. Ri muito para não chorar.
Tinha um Straight Flush na mão. É, escolhi o acaso errado.

domingo, 30 de agosto de 2009

Fio da Morte


Meus olhos estavam fechados, meu rosto pálido e sem vida. Meu corpo estava inerte, sem movimentos, nem da respiração. A imagem começou a ficar mais nítida e vi em torno de mim flores brancas. Lírios.
Meus braços estavam fechados sobre meus seios. Um tecido branco aveludado me embalsava. Foi quando eu vi. Senti um choque, queria chorar.
Estava morta. Meu corpo descansava em um caixão branco.
Senti vergonha, nem lembrava como tinha desfalecido e parecia tão patética ali, inerte. Era tolice desejar ver seu enterro, é tão patético ver as pessoas chorarem por algo que nunca mais vai voltar para elas. É eu sei, isso não tem lógica. Mas sofrer por algo que não me dar retorno? Não, prefiro ser egoísta mesmo.
Isso explica porque não tem muitas pessoas para honrar minha pobre alma. Bem, ela não tinha ido para nenhum lugar na verdade, me pergunto por quê. Talvez não mereça o céu ou o inferno. Quem sabe as almas não partam... É quase vegetal.
Andei pela igreja escura. Meu pai chorava ajoelhado em um canto, aquilo me doía. Não vi a figura da minha mãe, não à culpo. Uns familiares sacanas querendo ver o sofrimento alheio, outros que eu nunca vira na vida. E alguns amigos, que com certeza iriam para o jogo depois ou para qualquer outro lugar.
Mas por um segundo eu parei. Tudo girou como se não pudesse respirar. Eu estava respirando? Isso não importava naquele momento. Ele estava lá, na porta. Mal podia ver seu rosto, o sol estava escondendo. Era como se o sangue tivesse parado de correr. Ele vinha lentamente, em direção aquele caixão branco aberto de forma nojenta. Era culpa dele, tudo.
Procurei desesperadamente por seu rosto, estava abaixado contra o meu corpo, inerte e sem vida. Desejava profundamente que ele encostasse seus lábios sobre os meus, mesmo que não pudesse sentir nada, nem o calor ou a paixão, nada.
Entretanto, ele só ficou lá, parado. Inerte como eu. Depois, levantou. Finalmente pude enxergar sua face.
Indiferente.
Não havia nada a ser lido, nem uma ruga ou olhos vermelhos de tristeza. Me encolhi. Ele passou por mim e eu fiquei cada vez menor, até que desapareci.

domingo, 16 de agosto de 2009

Infinito

As três e meia da manhã, em plena terça-feira eles conversavam. No ápice de sua pequena ignorância juvenil, acreditavam o quanto aquela situação os faziam parecer diferentes, cultos. Não que os fizesse de verdade.
Havia metade de uma garrafa de vinho no chão, roubado dos pais e um único cigarro no chão, eles não conseguiram fumá-lo. E em uma ressaca pós nada, eles estavam sentados nos lados opostos do sofá de cocha xadrez, no meio da sala com as pernas embaralhadas. E os olhares denunciavam o apelo sexual de toda a situação.
Porém, ainda inocentes não sabiam levar aquilo adiante. Ficaram apenas trocando palavras desesperadamente sem sentido. "Minha vida é tão vazia" ou então, "Eu sei que eu tenho o direito de aguentar ou morrer, talvez..." ou ainda "A dor vem em estágios, preciso de alguém para me salvar" - todas as falas de jovens presos na melancolia barata.
Ela estava enjoada desse lado infantil mal agradecido dele. E ele estava frustrado com a posição de vítima dela.
Só que situação era charmosa demais. Proibitiva. E os olhares, não podiam negá-los. Não estavam entregues a paixão, muito menos se amavam, nem sabiam se eram amigos. Estavam apenas ali, vivendo um segundo após o outro, curtindo o tempo passar em segundo tão longos de um minuto tão curto, em uma combinação de afeição e ódio, com a violência trancada em seus corpos e abandonada no pensamento sem nexo. Só sabiam que ficariam ali um segundo a mais, um segundo eterno. Pelo menos até amanhecer.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Trilhos do tempo


Não havia sinal dos vagões do trem. Nem o barulho da locomotiva nos trilhos era perceptível. Mas eu já sabia meu destino, minha sina estava para terminar. E seria eu quem provocaria minha dor, um suicídio para o renascimento.
Eu dei um passo a frente e você segurou meu braço com força. Ao longe comecei a escutar o sinal do vapor. Com a voz fraca pedi para soltar-me, você não queria, entretanto o fez. Não sabia se era alguma prova de amor ou apenas estava agradecido da nova liberdade.
Eu jamais irei saber, mas seu rosto estava desfigurado pela dor. Quis tocá-lo, mas evitei, não resistiria e perderia o embarque. Seria mais fácil se as velhas emoções pudessem desaparecer sem uma palavra.
O trem chegava na plataforma vazia. Sai do seu lado e entrei. Era a encruzilhada onde nossos caminhos se separam, estava triste de saber que podemos nunca nos encontrar de novo.
Haveria significado em um amor fracassado?
É algo que desaparecerá como se nunca tivesse existido?
Essas perguntas jamais irão morrer. Saiba, mostrou-me mais de mim do que eu poderia enxergar. Te amei com toda minha alma e duvido poder amar menos ou deixar de amar. Vivi intensamente e não me arrependo. Amor é tempo e aquele tempo juntos viverá para sempre, nunca irá se romper. No entanto, o tempo passa e mesmo que aquele momento esteja tatuado em mim, eu mudei e você mudou. E como o tempo, o amor muda.
Agora, só posso te agradecer.
E no momento que o trem parte, te vejo ficar para trás na plataforma. Sua forma diminui até ficar invisível. A insegurança me bate. Estou sem rumo, não há caminho sob meus pés, mas não posso deixar de andar.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Endless Eight




Bom a KyoAni, Kodakawa conseguiram. O marketing perfeito. Fico impressionada só de pensar a genialidade deles e ainda surpresa até o limite de um fã.


Tudo começou no dia 18 de Junho de 2009. Quer dizer, o inferno que me deixa perplexa, pois de fato tudo começou a três anos. Em 2006, quando foi a estreia do anime que revolucionou a concepção de assistir animes, The Melancoly of Suzumiya Haruhi.


O anime era baseado na série de novels de Tanigawa Nagaro, onde mistura a vida de colegial com ficção de uma maneira absurdamente sedutora e inovadora, narrada por um garoto entediado e extremamente sarcástico que se envolve com uma garota exêntrica a qual pode ser considerada Deus, uma falha temporal ou uma modificadora de dados. Misturando aliens, espers e viajantes do tempo, o anime transmitiu a ordem dos episódios de maneira aleatória, instigando o expectador. Simplesmente brilhante, até complexo.


Terminou a temporada. E esperamos três anos para ver a segunda.


Nunca havia parado para ler as novels, mas sabia da grande expectativa para a fase do Desaparecimento. Eu, humilde, apenas esperava para assistir a segunda temporada. Em 02/04/2009 começou a reprisar a primeira temporada como quem não queria nada, até que no dia 21 de Maio passou sem aviso prévio um episódio novo. Primeira sacada de mestre, pois não ouve gastos com Marketing, os fãs fizeram o trabalha todo. Assim, os amantes da serie entraram em alvoroço e eu junto, claro. Entrei em todos os fóruns e comunidades do orkut possíveis, assisti o episódio com lágrimas nos olhos, era muita felicidade. Ainda mais que era um episódio chave para toda a história, fiquei ainda mais intrigada.


Os episódio novos seriam passados de acordo com a ordem cronológica dos fatos junto com a reprise da primeira temporada, parecia perfeito. Esse foi meu primeiro erro.


Algumas semanas depois, no dia fatídico, 18 de Junho de 2009 tudo havia começado. O segundo episódio novo da série. Era o inicio do Endless Eight. O episódio foi muito divertido, algo como amigos passando o verão junto. Quase poético, até estranho comparado aos fenômenos e agonias vividos em cada episódio do Anime.


Então, na semana seguinte, do dia 25/06 foi o Endless Eight. Porém com uma GRANDE diferença, os personagens se descobriam presos em um loop temporal, eles estavam repetindo o final do verão mais de quinze mil vezes. Eu fiquei maravilhada, pois o episódio era contado com diversos Dejá vu's e fiquei tão empolgada que queria saber a solução para eles saírem do loop. Talvez esse tenha sido meu maior erro, minha empolgação.


Baixei as novels e li desesperadamente. Descobri a solução da falha temporal, li o desaparecimento. Tudo parecia perfeito. Afinal, acreditava que no próximo episódio tudo estaria solucionado. Outro erro.


Na semana seguinte, 07/02, outro Endless eight. Comecei a me questionar. Porém na semana seguinte, outro Endless Eight. E na próxima e na próxima... OS produtores anunciaram que seriam seis, no máximo oito episódios.


Eu parei. Gritei. Respirei.


COMO ASSIM OITO?! OITO VEZES A MESMA COISA?!
As mudanças dos episódios eram sutis. Ângulos de câmera, roupas, fan-service, algumas falas, até teve episódios com cenas novas, poucas, mas devido a tantas repetições ganhavam credibilidades magnanimas. As vezes tinham falas diferentes ou não.


Porém sempre, sempre a mesma coisa.


Muitos fãs se desesperaram, quebraram suas coisas da série, desistiram de assistir. No entanto, ai é onde se encontra a genialidade da Kodakawa, Kyo Ani, etc. Nunca se falou de Suzumiya Haruhi como se fala agora, se é que fosse impossível aumentar a popularidade da série. Tudo se vendeu mais. É aquilo " Falem bem ou falem mal, falem de mim".


Cruel, mas genial.


Eu fui vitima disso. The Melancoly of Suzumiya Haruhi sempre foi um dos meus animes favoritos, porém agora estou em uma pequena obsessão. Comecei a procurar fanfics, videos, qualquer coisa que me remetesse a série, ao sentimento de orfã que me deixava os Endless Eight. E ainda esperava ansiosamente para assistir os episódios, toda semana. Em uma falsa esperança.


Porém, essa semana, no dia 30 seria o ultimo episódio, o oitavo. O fim do Endless Eight. Fiquei ansiosa, na expectativa de ver algo novo. Creio não ter sido a única. Mas estava totalmente errada.


Foi apenas outro Endless Eight.


O pior de tudo é minha impotência. Não consegui me revoltar, só me decepcionar, ainda não muito. Ainda tive a cara de pau de rir do Kyon e considerar um dos melhores episódios do Endless Eight, é agora eu tenho preferidos entre a mesma coisa.


Triste, não? Então saibam, o número da besta não é 666, é 8.

domingo, 19 de julho de 2009

Vitrine


A casa era deslumbrante, esculpida em detalhes dourados combinando com a coloração das janelas, ainda mais aquela em especial. Sim, aquela com a cortina alva de renda que balançava com o menor soprar do vento e era lá onde estava a moça. A mais bela de todas.
Na metade de todas as manhãs, ela aparecia na janela, encantando a todos com seu olhar, sua voz, seu cabelos, a pele, seus lábios... Quase perfeita.
E ficava apenas lá, até metade do dia com pequenas trocas de palavras com todos dispostos a ouvi-la no meio de sorrisos e amabilidades, depois se retirava.
No entanto, ninguém se aproximava dela o suficiente. Todos lhe dirigiam a fala nos meados do jardim, sem nunca entrar na casa. Haviam milhares de pretendentes ou amigos, sem nunca deixá-la só. Ela apenas sorria, gentil a todos.
Mas como era apenas quase perfeita, a estranheza em torno da moça se traduzia com o silêncio dos indivíduos que entravam e saiam da casa. Nunca. Nenhuma palavra. Nenhuma identidade. Nada.
Cansado de apenas admirá-la na minha paixão platônica ou morrer de inveja de todos os homem sortudos por escutar a voz da minha donzela, tomei coragem e me aproximei. Ela sorriu para mim, como para qualquer um, e ainda meu deixei levar com o coração acelerado e o suor nas mãos.
Eu precisava lhe tocar a face, sentir seu perfume, alcançá-la.
E rompendo todas as barreiras em uma atitude sem precedentes, empurrei a porta. E só consegui enxergar a donzela sair correndo da janela com medo. Entrei na casa. Negra e gélida, tortuosa e cheia de escadas. Subi, corri e procurei. E no momento seguinte, estava em um beco sem saída, mas ela estava lá.
Uma lágrima caiu de seus olhos. Indefesa, frágil e fraca. Digna de pena.
Tentei me aproximar, ela tremeu. Sabia que podia feri-la ou a quebrá-la. Tamanha magreza. Tremendo de medo. Comecei a chorar junto com ela. E em voz romântica, digo, meu coração foi partido. Não havia meu amor, não havia nem uma mulher. Apenas um vazio.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Pequenas coisas


Será que os sinos da culpa estavam batendo? Acho que não. Afinal estava bem claro porque eu estava ali. Não era surpresa, todos já sabiam que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde.
Meus amigos me avisaram, não se ilude, não investe. Até eu já me conhecia, sou daqueles que enjoa fácil. Mas o que eu poderia fazer? Não vou negar que me apaixonei. Duvido que outros não se apaixonariam. O primor da perfeição estava na minha frente: dançando, cantando, beijando, agindo de forma totalmente nova. E me perdoem os gerúndios.
O cabelo, a pele, o andar, a voz, tudo era diferente. Jamais visto por meus olhos experientes. Fui atrás, era uma descoberta digna das grandes navegações. Infelizmente, a convivência matou meu amor. Ela se transformara em qualquer outra, Mariana, Carolina, Gabriela, Janaína, Maria. Qualquer uma. Foi sem aviso, eu não vi acontecer.
Se eu precisasse dizer algo, meu amor, seria: você não tem culpa, ainda é a mais bela de todas e a mais gentil. O problema está na normalidade. Me cansei dela. Não se sinta mal, eu que sou o leviano. Já não consigo curtir te ver vestida nas minhas roupas ou ligando para desejar boa noite.
Essas palavras ficarão guardadas para mais tarde. Agora vou encontrar minha nova paixão, emocionante e bela. Explendida.
Sem culpas, pois tenho certeza amor, você sabia que isso iria acontecer.
A gente sempre sabe.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Trasmutação imutável


Em algum lugar do passado as seguintes palavras foram registradas por mim secretamente.

"É tudo tão vazio, eu sou tão vazia. E com o resto da gentileza que sobrou no meu coração seco e áspero, penso o quão longe estou de realizar meu sonho... Se eu realmente tivesse um".

Palavras estranhamente familiares. Pois ao refletir sobre o que escrevi, penso que meus sentimentos não mudaram, em meses, anos, dias, horas, que eu continuo com os mesmos medos. Então me pergunto, será que nossas inseguranças nunca somem ou nunca se modificam?

Julgo-me diferente. De alguma forma mais velha, mais madura, mais mulher. Como a excitação de uma menina que acabou de fazer treze anos. Entretanto, sinto minha crucificação e o meu ódio por mim maiores, como se cada passo para o futuro afastasse a capacidade de me perdoar e termino por procurar motivos para me machucar cada vez mais.

Assim, só posso ser consumida pela dor. O irônico são outras palavras passadas:

"Sinto vontade de tirar minha própria vida para acabar com a dor".

Depressivo, não? É, mas aparentemente sou incuravelmente desse jeito. E saber que não consigo mudar é o mais triste.
Por que realizar um sonho e ser feliz é tão diferente? (Nana)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Meu Reflexo


Finalmente, eu entendi as palavras que me magoam
Foi no meio do isolamentento.
Não era tristeza,
Não era solidão,
Não era indiferença,
Muito menos ódio.
Era apenas uma mudança
Da minha pessoa para o meu ego
Daquilo que mais amo em mim.


Que pena,
Não posso mais ser inconsequente.
Never thought that you wanted to bring it down. I won't let it go down till we torch it ourselves. (Over my Head - The Fray)

sábado, 20 de junho de 2009

Perfeito


O calor do meio-dia invadiu o quarto, me impossibilitando de dormir. Sentei-me na cama e minha cabeça latejou, provavelmente pela bebida do dia anterior, não estou acostumada a beber. Ouvi um gemido e olhei para quem se deitava ao meu lado. Ainda não conseguia acreditar.
As costas largas levemente bronzeadas, mas quase brancas; definida com traços fortes, equilibrando com a leve definição de seus braços, a linha da coluna tinha um contorno delgado quase feminino sem nenhuma saliência, o que contrastava com com a largura de seu tórax com poucos pelos, o bastante para não parecer apenas um menino. Estava deitado de bruços, mostrando uma bundinha deliciosa que dava vontade de morder e assim o tinha feito na noite anterior, suas pernas fortes e cabeludas estavam escondidas pelo lençol.
Senti meu rosto arder ao pensar na melhor parte daquele homem.
O encaixe perfeito.
E tinha o rosto, com aqueles olhos azuis como faróis a noite, sedutores e irresistíveis. Seus cabelos eram desarrumados, macios e cacheados com um leve ar de displicência junto com a barba mal feita. Um detalhe: a barba o deixava com aparência de macho, reprodutor, bom de cama. O que ele era. O rosto era anguloso com um queixo forte e moldava perfeitamente com seu sorriso. Ah! Que sorriso. Os dentes perfeitos, lábios finos e avermelhados moldavam algo tão primoroso, meio sacana, que poderia fazer qualquer mulher ficar com as pernas bambas.
Eu sorri, aquele homem era um Deus. Não era alguém para uma mulher sem graça e sem peitos, como eu, estar dormindo na mesma cama. Suspirei, não conseguia parar de olha-lo.
Vi ele abrir os olhos lentamente e se levantar aos poucos. Vi suas costelas estalarem quando se espriguiçou e observei a forma como segurava o primeiro cigarro do dia. Ele deu um tragada e me olhou.
Tão intenso que senti o calor entre minhas pernas.
-Você é linda. -ele falou tocando o meu rosto.
Como a falsa que sou, abri um sorriso. Não precisa dizer essas coisas, eu sei que não são verdades. Nunca estaria no patamar desse homem. E já não me sinto mal por ser tão machista.
Yo me propongo ser de ti.Una víctima casi perfecta. (Las de la intuición - Shakira)
Um obrigado especial a Vanny que me deu a idéia para o texto no meio da minha crise de criatividade.

sábado, 6 de junho de 2009

Valsa


As mãos de Romeu estavam molhadas de suor e seu estômago revirou quando viu a figura de Julieta em sua frente. Ela estava tão ou mais nervosa. O sentimento de nostalgia tomou conta do casal, porém foi mais sereno do que esperavam. Ele levantou e a beijou na bochecha em cumprimento, convidando-a para sentar.
- O que gostaria de pedir? - Romeu perguntou.
-Café preto, sem açúcar. - Ela sorriu de volta.
Isso era tão Julieta, a única pessoa que tomava café puro. Eles riram disso, as lembranças retornando. Nem parecia que haviam passado dez anos desde a última vez que havia se visto. Até parecia um filme antigo, uma memória desgastada de um baile, de vestidos, de músicas e a valsa no salão.
-E então, como tem passado? O que tem feito da vida? Está trabalhando? - Ela perguntou.
-Você sempre faz muitas perguntas de vez?
-E você sempre me responde com outra pergunta.
Novamente riram. Era o salão novamente, a releitura de uma lembrança em que a valsa aproximaria dois corpos tímidos de duas crianças. E em plena juventude escondiam seus sentimentos que teimavam em transbordar no simples toque da dança, desenhando no cenário a inocência enquanto vislumbravam sobre o futuro. Apenas desejando que o momento durasse para sempre. Era uma promessa silenciosa e as testemunhas eram as luzes do salão.
-Você parece diferente. -falou Romeu.
-Mais feia ou bonita? - perguntou Julieta com graça. - Só cortei meu cabelo.
-Apenas diferente. - ele riu. - Talvez mais madura, Julieta.
Um choque percorreu a espinha dela e os pelos da nuca se arrepiaram. Aquela voz meio rouca chamando seu nome, um pouco mais firme agora. E ela observou, Romeu tinha uma aliança na mão direita. Era estranho pensar na dança que os havia colocado juntos. As palavras dele no meio daquele giro atordoante eram juras infantis, mas ao mesmo tempo intensas: "Espere Julieta, o dia em que eu irei dizer - pega sua mochila e vem comigo" e sairíam do salão sem rumo.
-E onde está o seu filhote? - Romeu perguntou.
-Foi comprar brinquedos com o pai. - ela falou com os olhos brilhantes. - Sinto saudades dele o tempo inteiro.
-Eu imagino.
O vento passou por eles e a tristeza de não precisar pensar em nada surgiu, a melancolia de saber que o tempo de ser irresponsável e agir impulsivamente havia passado. Assim, todas as promessas havia se desgastado. Não havia magoas, apenas saudade da valsa que inebriava os sentidos. Descobriram a dor de crescer e se perguntavam: O que era isso que não queriam perder?
A valsa havia parado, não havia mais música no salão.
Então as lágrimas viriam, porém perspicaz, Romeu agiu antes.
- Se eu pedisse para você fugir comigo agora, você fugiria?
Ela o olhou surpresa. O turbilhão de memórias não iria parar. Respirou fundo.
- Eu lhe pergunto a mesma coisa, Romeu. - Julieta sorriu. - Você fugiria comigo?
O sonho de todo adulto é voltar a sua infância, pois quanto mais longe as memórias ficam, mais preciosas elas se tornam. E por um único instante a música começou a tocar, as luzes do salão acenderam e eles deram as mãos. Talvez a valsa continuasse. Mas era apenas um talvez.



Mesmo que não possamos permanecer assim e sejamos levados pelo futuro, ela nunca irá mudar, nunca ficará manchada. (Honey & Clover)

domingo, 31 de maio de 2009

Desculpa


Desculpa é a palavra mais difícil de dizer. Afinal, é admitir que você falhou ou errou completamente com outra pessoa e ainda pessoas que amamos, pois não nos damos o trabalho de pedir desculpas a quem não amamos.
Mas o que fazer quando precisamos pedir desculpas por ser como somos?
É simplesmente impossível. Nos tornamos a causa do sofrimento dos outros, damos a eles solidão e ainda queremos nos apoiar neles. É muito egoísmo. Mudamos e não nos reconhecemos mais de maneira a ter vergonha daquilo que nos tornamos. A verdade é, não iremos pedir desculpas por aquilo que somos, mas por aquilo que nos tornamos.
Esquecemos daquilo que formava nosso ego anterior e só sobra o vazio. Passamos a tomar atitudes auto-destrutivas. E até em quem mais confiamos perde a crença, o que doí e machuca.
De verdade, pedir desculpas é admitir precisamos de concerto, é tentar recuperar alguém que você mesmo afastou. Desculpas é tentar voltar... Mesmo que o caminho não tenha volta.


Por isso, eu peço desculpas a você.
Eu ainda tenho sonhos, eu ainda sou como você. Por favor, acredite em mim. É só disso que eu preciso.



Eu sigo símbolos dispersos enquanto forço uma expressão feliz. (Honey & Clover)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Destino de Princesa


Nossa Princesa estava apaixonada. Como toda e qualquer princesa deveria estar: os olhos cheios de brilho, respingando amor. Ela não era loira, não era rica e nem tinha a voz mais bela, sua aparência era bem comum. Ainda sim, era uma garota boa, daquelas para namorar. No entanto, naquele momento ela era a mais bela, resplandecente. Havia conhecido seu Príncipe à uma semana, os sete dias mais felizes de sua vida e no meio desses dias, descobriu que o amava com todas as batidas aceleradas de seu coração. Meio precipitada, talvez, não queria mais apenas a amizade do Príncipe e resolveu expressar a ele seus sentimentos. Sonhava em ser correspondida. Pena que o tempo não era o certo.
A Princesa não tinha sorte.


Nosso Príncipe havia passado uma semana em puro sofrimento antes de encontrar a Princesa. Ao contrário do normal, estava apaixonado pela Bruxa, mas seus sentimentos haviam sido rejeitados. Com o coração partido em mil fragmentos, passou uma semana inteira desejando ser amado, que alguém sentisse sua dor e o compreendesse. Era uma melancolia só. Então ele conheceu a Princesa. Destino? Acho que não. Nesse mesmo dia, a Bruxa resolveu voltar atrás e aceitou seus sentimentos. Conhecidencia? Muitos dizem que não. Uma semana depois, a Princesa pronunciou um efervescente "Eu te amo". O Príncipe a olhou triste, se tivesse sido uma semana antes, se o tempo estivesse certo.
A Princesa não tinha sorte.


No fim, a Princesa derrama rios de lágrimas. Não queria ser apenas amiga do Príncipe, mas não podia ser mais que isso. Soluçava de raiva. Na realidade não existia o justo "e viveram felizes para sempre"? O Príncipe não deveria ficar com a Princesa? Aparentemente, não.
A Princesa não acreditava mais em destino.



domingo, 17 de maio de 2009

Lembrança de Verão

O verão sempre fora sua estação favorita, pensar na forma com o infinito mar azul correspondia ao brilho do sol. Como o respingo da água batia em seus cabelos, molhava seus pés e sorria para mim da forma mais inocente possível. Porém de lembranças não podia viver mais, já havia passado a hora de esquecer. E infelizmente, hoje chovia. A cidade litorânea perdia seu sentido.
Me questiono por que estava chovendo?
Porque o ser humano faz promessas que não pode cumprir?
E por que quando nos apaixonamos teimamos em pensar que é destino?
Não adianta nada me perguntar. O buraco em meu peito não irá sumir, apenas se consumir na dor de não tê-la ao meu lado. De jamais poder tocar seu rosto e ver suas bochechas rosadas. E de jamais abraçá-la até dormir, ela sempre dizia que estava cansada com ternura. É, eram nossas noites.

As lágrimas não caem mais de meus olhos. As vezes estamos tão tristes que não temos mais como chorar. Mas ainda podia sentir o cheiro do verão, o cheiro dela impregnado em meu corpo. Fecho os olhos e digo adeus.
E em algum lugar ela estará me dando o seu sorriso mais honesto, o sorriso que eu mais amo. O sorriso preso ao verão ou um verão preso a um sorriso.



I cut my long baby hair. Stole me a dog-eared map. And called for you everywhere. (Flightless Bird, American Mouth - Iron & Wine)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sangue no Zoio




Lá estava uma garota infeliz que encontrou algo para esquecer de sua realidade, um vídeo game.
Era emprestado e por um acaso estava na casa dela. Então ela encontrou o jogo, o qual sempre quis jogar e começou, se envolveu tanto que a única coisa que falava era sobre isso, só pensava nisso, só respirava isso, deixava de fazer tudo para isso, até estudar para a prova.
Como o vídeo game não era dela, a garota estava tentado terminar o jogo em uma semana, uma tarefa quase impossível.
Ou melhor, impossível.
A garota chegou em um lugar onde havia um grande desafio, um chefe. Ele nem era tão forte, mas mesmo com o detonado e treinando os personagens, mesmo depois de QUATRO HORAS tentando, não conseguiu. E ela tentou, desejava muito, pois a melhor cena de todas estava a alguns segundos depois do monstro.
Não conseguiu. Falhou.
E frustrada, ela escreve. Impotente, ela lamenta por saber que não conseguirá terminar de jogar. E com raiva, com sangue no zoio, com lágrimas nos olhos...
Ela gritou: "Final Fantasy Pau no Cú, Rola no Cú!"



I don't wanna cry no more. (Cry no more - Mika Nakshima)


sexta-feira, 8 de maio de 2009

Oh Flor!

Olhe para mim!
Apenas desabrocha para a luz do sol
Sorrindo, cantando e enfim
Colore o cenário monocromático
Mas tu esqueces do apático
Que te dá forças sem ser visto
E segura suas pétalas depois de caídas.


I thought I lost you somewhere.But you were never really ever there at all. (Here is gone - Goo Goo Dolls)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sorriso Pintado

Ela viu-se refletida no espelho. Não podia sorrir.
Uma lagrima escorreu pelo seu rosto. A sensação de vazio e desgosto tomou conta de seu corpo ao deixar um sabor amargo na sua boca, o desprezo. Não suportava aquilo que o espelho lhe mostrava. Aquilo que havia mostrado por toda a sua insignificante vida. Sua incapacidade de ser amada.
Com seus olhos de purgatório revelou a teia de mentiras que produzira, escondendo a monotonia da sua fraqueza, de sua obsessão por não existir. Fechou os olhos em demasia, o gosto de vomito subiu por sua boca, mas nunca chegou a cuspir tudo que a envenenava por dentro. Virou-se de costas e sorriu. Uma felicidade Falsa.
O antagonismo de seus sentimentos não queria deixar aquele quarto, o esconderijo, entretanto não desejava afogar-se na prisão da segurança. Afinal, seria violentada com perguntas que não tinham respostas por seus pais. Suspirou e saiu. A culpa corroia seus sentidos, os embriagando com o ódio, o simples ódio, um ódio soldado em sua alma, por quem havia lhe atirado ao mundo, simplesmente por ter tê-la feito viver.
Riu ironicamente do seu egoísmo.
Encontrou-se com todos que era obrigada a ver todos os dias no mesmo local, simplesmente por convenção cartesiana de organizar a vida de pessoas em classificações e etapas. E com seu cinismo perfeito discutia como o mundo era egoísta. Hipócrita! Ainda assim, todos eles lhe admiravam e a conduziam com respeito. Grande Sofisma.
Ela sabia talvez muito mais que qualquer um ou menos que ninguém, que existiam pinturas belas sobre as pessoas. Artistas de um único palco. Ela não era desse jeito?
Só que ainda era uma garotinha. Ansiava por atenção e carinho. Não havia. Ansiava por proteção. Não havia. Ansiava por um brinquedo. Não havia. Ansiava conhecer tudo. Não podia. E mais do que tudo desejava ser mulher. E nunca conseguiria.
O muro que colocou em torno de si mesma a protegia das invasões, qualquer que fossem, dos outros de rosto pintado. A solidão em suas relações era permeada pela futilidade e uma competição que fingia participar. Uma disputa para ver quem era mais perfeito no meio de tantos imperfeitos.
No entanto, já tentara abrir-se para alguém, talvez para muitos, talvez para ninguém. Quando olhos como espadas a cercavam e a julgavam com indolência, o primeiro que mudava a pintura para uma gentileza afagava-lhe os sentidos, mesmo por um instante. Embriagava-se como uma droga por esses míseros momentos e carregava isso na memória, mesmo sabendo como isso só a tornava mais criança.
Algumas vezes tentou abrir as fechaduras de si para esses seres mais amáveis. Nunca conseguiu. No ultimo instante fechava-se novamente com medo das mazelas de seu coração poderiam corromper as pessoas gentis. Não, era mais uma mentira, só não queria perceber a verdade inevitável, nunca seria amada.
E sentada em um lugar que ninguém nunca lhe acharia percebeu o que no fundo já sabia. O infortúnio estava em si.
Quem não conseguia se amar era ela. Cada pedaço do seu corpo ansiava por uma aprovação dela e para isso precisava da aprovação de todos. Era um ciclo vicioso. A pessoa que havia tornado-se era conseqüência de suas escolhas e a solidão era consigo. Não suportava coexistir com o mundo. Entretanto, o infame era a culpa ainda maior que se alastrou no oceano da alma, na praia do seu estomago.
Tentou limpar as lagrimas e controlar o choro. Estava histérica, mas ninguém podia ouvi-la. Respirou fundo. Precisava de algo para sentir-se vida. Algo para que conseguisse suportar o delito de ser quem era.
Levantou-se, correu, fugiu.
E com a droga da sua ansiedade colocou-se em uma situação inusitada, mas que por um instante a fez sentir-se viva. Encontrou um homem, nem sabia o seu nome. Ele possuía uma aparência agradável e petulante. Pintou um sorriso em sua face e deixou-se levar pela ignorância da sedução. Uma ignorância enjoativa.
Pela primeira vez seu corpo foi explorado por outra pessoa. Um ninguém ou aquele que a salvaria da culpa de odiar-se. A garota olhou para o teto, ele era todo branco e tinha algumas teias de aranha. Sentia um nojo misturado com um calor, mas não tinha muita vontade de fazer qualquer coisa, apenas foi subserviente. Como a maioria. E como uma vadia, levava-se ao desespero da coerção física para se auto-afirmar.
E no meio de tudo aquilo sorriu, a aranha estava andando pela teia.
Quando chegou a seu quarto, seu esconderijo desmoronou. Sentia-se viva e porca. Caiu de joelhos no chão e chorou lagrimas vermelhas, como o sangue que haviam ficado naqueles lençóis. Era vadia e era mulher. Sabia que suas atitudes eram destrutivas, mas isso lhe trazia um sabor delicioso à boca.
Ela se arrependeria? Talvez. Talvez já estivesse. Não tinha certeza. Finalizara a chance de ser amada, estava suja. Em certo ponto aquilo lhe trouxe liberdade, não precisava mais se afirmar na sociedade. Não precisava ser uma mulher decente, apenas mulher.
Enquanto as lagrimas caiam pelo chão sentiu a garotinha deixar-lhe. A dor era quase insuportável. Naquele momento descobriu que a amava, a pura garota que era tão gentil que não desejava prejudicar ninguém, pelo contrario amava a todos. Ela era linda e só precisava que lhe dessem uma chance. Só que a mulher não era gentil o bastante para ceder aos encantos de uma pessoa tão pequena e frágil.
Secou a ultima lagrima e jurou nunca mais chorar. Guardaria a memória daquela que fora um dia e aproveitaria para ser quem era agora. Alguém que tinha a permissão de mentir e pintar-se. Alguém que tinha certeza que não seria amada, mas que não por ser quem era. Sentiu-se realizada, havia expirado seus crimes com um fantoche que havia os carregado.
Ela tinha permissão de amar, mesmo sem ser amada. Talvez isso fosse ser mulher.
Ela viu-se refletida no espelho. Já podia sorrir.


Catch the weel that breaks the butterfly. (Falling Down - Oasis)

sábado, 2 de maio de 2009

Viúva Negra

A Viúva Negra é vista como a mais venenosa.
Ela seduz o macho para sua teia com sua beleza negra e inebria seus sentidos através de uma arrebatadora paixão. Totalmente inerte e embriagado, o macho apenas deleita de um breve momento de prazer sem perceber que o próximo movimento será fatal.
Após a cópula, satisfeita, a Viúva Negra come o macho, literalmente. Destroí lentamente aquele que lhe dá prazer.
Em um pensamento precipitado, a Viúva Negra é traiçoeira. O tipo de mulher fatal, a puta, aquela que busca a própria satisfação. E por ser assim, seria considerada apenas mais uma prostituta comum, aproveitadora.
Entretanto, em uma segunda vista, a Viúva Negra esconde uma figura que não rompe com padrão nenhum. Ela apenas escolhe um caminho mais fácil para lutar contra a decepção, ela não se ilude com o ideal de vazio preenchido. Por ser Viúva e por ser Negra, ela sabe que todos são seres solitários, então apenas abusa de sua solidão.
Quem não deseja ser como a Viúva Negra? Ela prefere não pertencer e nem possuir nada, pois ela compreende, a dor de perder tudo é maior que a dor de se despedaçar.



Disarm the dream tickler. In the constant moment. (A Little Pain - Olivia Lufkin)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Síndrome de Maysa, as virgens suicídas II [2]

Na minha tentativa de fazer um post pequeno e de jogar minhas lamurias em algum lugar, resolvi escrever isso. Porém se alguém quiser ter um apanhado geral, olha o blog de Vanny que entenderá muito melhor do que estarei falando.
O vazio existencial preenche minha vida, não é sempre, mas é cíclico.
Quando estou dominada pelo tédio, carente de atenção e simplesmente sem nenhuma preocupação, além da dor do meu egocentrismo fico deprimida. Então, encontro mais duas garotas na mesma situação que a minha, o que fazemos? Nos juntamos em cinco horas para lamentar as nossas vidas e nos sentirmos incompreendidas. E secretamente encontro o túmulo perfeito e poético, a politécnica. Afinal, suicídio de artista tem que ser poético. Ainda mais que o caixão seria branco.
O estranho é: encontrar pessoas com a mesma dor que a sua, lhe dá alguma satisfação. Mesmo momentânea. Lamentar não ter nascido nos séculos XVIII e XIX para viver um romance de perfumaria ou de namorar para segurar a mão do amado para subir no ônibus quase perdido, faz perceber que ainda existem pessoas pesando igual. E em um milésimo de segundo sorri da minha tristeza para então, sofrer do meu riso.
Talvez isso não signifique nada. Como minha melhor amiga diz: "Parece que você gosta da depressão. Você gosta de um drama."
Se eu realmente gosto de um drama, só prova que sou estúpida. Quem provocaria o próprio sofrimento? Por isso eu digo, tenho síndrome de Maysa: quando está tudo bem, eu mesma me saboto.



Meu mundo caiu. E me fez ficar assim. (Meu mundo caiu - Maysa)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Maçã

Era única sua obsessão: Maçãs. Poderia ser qualquer outra fruta, laranjas, uvas, morangos, melancias, entretanto eram maçãs. Poderia ser qualquer coisa, flores, pássaros, animais, pintura, escritas, entretanto eram maçãs.
É claro que era diferente das demais crianças, quem no final da infância estaria interessado em plantar maçãs? Apenas o sofredor garoto de cabelo desarrumado e mãos calejadas de tanto mexer com a terra. Desde de pequeno não se interessava por carrinhos ou por jogar bola como os outros garotos, sempre fora interessado em plantar e cuidar de macieiras. Aliais um única macieira.
Todo dia pela manhã, antes do galo acordar, o pequeno menino saia de sua cama, tomava o leite que sua mãe lhe dava no copo e já saia para o jardim fiscalizar como andava o crescimento de sua plantinha. Depois de olhar cada folha, cada pedaço do tronco, jogar água e mexer na terra, ele sentava no galho mais alto. Então fechava os olhos, escutava todos os barulhos do acordar das casas.
Poderia passar o dia todo ali, apenas imaginando a vida de cada habitante daquele bairro tão simples ao mesmo tempo tão fantástico. Imaginava-se em grandes aventuras, tais como sair a procura de diferentes tipos de maçãs em várias florestas ou encontra com pessoas que partilhassem de seu gosto. E ele ficava lá por imaginar, como qualquer criança inocente.
Era um menino amante da solidão. Talvez por medo de corromper sua inocência com o contato com o outro.
Entretanto, ele não era plenamente feliz, pois sua macieira nunca havia dado nenhum fruto. Mesmo com tanto carinho, cuidados e dedicação, ela era estéril. Isso lhe amargurava. Com tantas fotos, vídeos e receitas sobre maçãs, o menino jamais havia tocado tal fruta em seus lábios. Era frustrante e ao final de cada dia se perguntava: o que mais precisaria fazer?
O que o pequeno amante das maçãs não sabia era sobre os planos da natureza para ele. Um dia então, sua macieira acordou florida. Isso também era um fato inédito. Sorriu com toda sua alma e coração. A felicidade transbordava do seu corpo. Correu e subiu na árvore, sentindo o aroma das flores. Tão entretido com estava deixou de perceber a aproximação de outra pequena figura, a qual sentou-se apoiada no tronco da macieira.
O garoto só percebeu a figura encostada quando desceu e logo enciumou-se. Quem era aquela figura que ousara se aproximar de sua amada árvore? Olhou para pequena garota com repudio. Ela cochilava inocentemente sem importar com seu vestido rosa melado de terra e grama. Contrariado, ele a cutucou com os dedos e ela acordou, lhe dando um sorriso. Não podia permitir que ela ficasse ali sozinha na sua árvore. E logo lhe deu as costas.
No outro dia ela estava lá de novo, e em outro dia também, e uma semana depois ela continuava lá. Todos os dias, depois de subir na árvore, a figura da menina aparecia encostando-se no tronco. A macieira era só sua! Não iria dividi-la. Então resolveu confrontar a pequena figura de vestido, pois se ela queria algo com ele deveria falar logo.
Desceu ao chão e como um tiro, falou diversas palavras ferinas de ciúmes. Perguntou para a garota o por que dela estar ali todo dia, por que nunca falava com ele, o que ela queria. Mas a cada palavra liberta, mais a menina se afugentava. Suas mãos tremias e seu rosto ficou vermelho, as lágrimas vieram aos olhos e com toda a força do mundo ela tentava falar. E por fim, ele questionou: "Nem agora vai me dizer alguma coisa?"
A menina segurou a barra no vestido, com a voz bastante rouca e engasgada, pediu desculpas e saiu correndo. Então, ele compreendeu. A menina não falava. E o menino pode compreender que dentro dela havia algo tão dolorido, impedindo-a até de pronunciar palavras. Amedrontado por sua estupidez e ignorância, mergulhou em sua cama e chorou. E jurou jamais repetir tamanho ato de infantilidade, pois sabia que ela não voltaria.
E como suspeitava ela não apareceu. A sua ultima esperança de perdão havia evaporado. Olhou para sua macieira, todas as flores haviam caído. Envergonhado, não possuía a coragem de subir nela novamente. Com lágrimas nos olhos, recolheu todas as pétalas que enfeitavam o chão como um jardim e entrou de volta para casa, pedindo perdão.
Inusitavelmente, no dia seguinte a garota havia voltado. Ele abaixou a cabeça e se colocou na frente dela, com as mãos suando e pediu desculpas. A garotinha apenas sorriu, como na primeira vez. Naquele momento, seu coração havia deixado de ser uma pedra e tornará-se uma pluma. Pela primeira vez, não subiria sozinho a macieira e pela primeira vez não pensava apenas em maçãs o dia inteiro. Curtia o silêncio em companhia. Havia feito seu primeiro amigo.
Então como um presente, sua macieira deu frutos pela primeira vez. Uma única maçã. Mas era sua, afinal só existia por seu esforço. E ele sorriu como nunca na vida. Ganhara diversos primeiros e esse havia sido o melhor de todos. Junto com sua nova amiga, subiu no galho mais alto. Pegou a maçã pelo talo com o maior cuidado e a segurou com carinho, sentiu seu aroma adocicado e admirou sua cor avermelhada. Sua barriga formigava, as borboletas em seu estômago não paravam. Levou a fruta a boca e com vontade deu uma mordida.
A maçã caiu de sua mão no chão.
O gosto era horrível. Apodrecido. Dentro estava tudo negro, corroído pelos insectos. Era isso que havia produzido com todo seu esforço?
A menina viu o sofrimento do amigo e rapidamente desceu, desaparecendo de vista. O garoto ficou parado sentindo o peso do fracasso. O afinco de gastar sua vida na produção de uma falha trás um desgosto que beira ao insuperável. A impotência o consumia por dentro.
A garota voltou e estendeu-lhe uma nova maçã. Tão bonita como a primeira. Ela sorriu e ele segurou a maçã. Fechou os olhos, temendo o sabor e encostou na boca. A menina segurou uma de suas mãos para encorajá-lo. Ele mordeu e o sabor adocicado preencheu seu paladar. Era a fruta perfeita. Doce e meia amarga, com a casca e o centro suculentos.
O garoto amante das maçãs abriu os olhos, então observou um ar diferente em torno de si. Encarou a garota sorridente a sua frente. Não tinha mais a solidão. E nem era mais inocente. Ainda assim, sorriu feliz.

I'm worse at what I do best. (Smells like teen spirit - Nirvana)

terça-feira, 28 de abril de 2009

Infância

O sentimento de nostalgia é algo que me persegue constantemente.
Aparentemente, para alguém tão sentimental como eu, as lembranças remetem aos momentos mais felizes, impossíveis de retornar ou incapazes de se repetir. O que eu quis dizer de forma confusa é: a minha infância foi o melhor período da minha vida e jamais serei feliz daquele jeito novamente.
Tudo era simples, novo e idealizado. Em outras palavras refrescante. Acho que por isso demorei tanto para crescer, afinal com doze anos ainda brincava de boneca e jogava pokêmon no game boy. E depois de fazer dezoito anos descubro que sofro da síndrome de Peter Pan, pois sou tão infantil ao ponto de pensar como um menina de doze anos. E sem parecer egocêntrica, a minha infância foi a mais pura e feliz de todas.
Por isso, neste momento de reminescências resolvi discorrer e relembrar de três aspectos da minha infância que foram incisivos para a formação da pessoa que sou hoje. E eles são: os amigos, o romance e a escrita.
(1) OS AMIGOS:
Sim, eu tive os melhores amigos de infância, tanto que a nossa ligação é tão profunda até hoje. Em parte, já cheguei a me viciar neles e ainda dependo sempre de vê-los. Entretanto isso é apenas uma parte, pois existe outros amigos fundamentais para a formação do meu ego, os quais tive a infelicidade de aprender a não conviver - só que representam muito para mim, como minha melhor amiga, por exemplo: qual seria o significado de InuYasha para mim sem ela?(Espero que ela sinta o mesmo).
Minha primeira amiga é de quando eu não tinha nem um ano de vida e até hoje vejo a cara dela toda semana, sem enjoar. E foi depois de me mudar e voltar que tudo começou, aos quatro anos quando encontrei as pessoas indispensáveis. Então brincamos de pokêmon e DragonBall ou esconde-esconde (para não dizer que não somos normais) até as dez da noite quando pedíamos mais cinco minutos para entrar, os quais se transformavam em trinta.
Na quarta série encontrei minha melhor amiga e depois encontrei os outros do Nós, intactos e unidos até a sétima série quando nos separamos em corpo, não em alma. Como dizia a música de Shaman King, a nossa música: " Em qualquer instante, das nossas vidas, nossas almas estão sempre unidas para sempre". Repetitivo, mas feliz. São as lembranças mais felizes que eu tenho, com sinceridade. Amava chegar no colégio colocar a frase do dia na sala e falar sobre InuYasha o dia todo (mesmo quando achei que iria terminar) ou viajar para Itariri.
E quando o Nós se dividiu o Grude nasceu ou melhor renasceu. Pós minha depressão, como se tentasse dizer: acredite na vida novamente. Foi quando eu comecei a virar adolescente ou não, e quando eu aprendi a fazer as novas amizades. E acho que isso, não justificou nada sobre mim, foi apenas histórias de alguém com saudade.
(2) O ROMANCE:
Sempre fui uma garota romantica, amava os filmes da Disney e era apaixonada pelo Ken (por mais vergonhoso que seja admitir isso). No entanto, uma única cena implica em todo o meu comportamento e minha visão do amor, até a meu desejo intrínseco de ser artista:

Naquele momento todas as minhas emoções estavam conectadas a Sakura Card Captors. Pode parecer estúpido, mas para mim este dia marcou tanto que até hoje me arrepio. A cada aproximação de Shaoran e Sakura, eu ficava nervosa e vermelha, tanto que meu amor da infância aconteceu por causa disso.
Essa cena representa a confirmação de um amor puro, um paradigma tatuado no meu subconsciente, o qual a confiança e amizade se misturam com a paixão, visto de um lado puramente sentimental e infantil. Sakura confiava nele o bastante para confessar-lhe sentimentos que ninguém conhecia(nem sua melhor amiga) e Shaoran por amá-la tanto, a conforta mesmo sabendo que ela ama outro. É muita informação para uma garota de onze anos(a mesma idade dos personagens).
À partir disso, criei um desejo inconsciente de tornar-me totalmente necessária para uma pessoa. A existência de alguém condicionada a mim. E o único caminho que encontrei foi através da arte, então comecei a escrever e utilizar os meus desenhos para isso.
(3) A ESCRITA:
O ato de escrever começou com os diários, como Doug Funnie. Porém criei o gosto por conta de InuYasha, para criar uma realidade alternativa, pois era absolutamente bom que apenas uma realidade não palpava a minha obsessão pela obra. No lugar de escrever sobre, prefiro colocar pequenos trechos do que escrevi até os treze ou quatorze anos. Sem julgamentos, espero.
" ‘Gabriela! Eu te amo!"Eu acho que o infeliz que disse isso não sabia que eu iria saber isso depois e fiquei sem onde enfiar a cara!" - Diário de 2002.
" Ele disse que sonhou que estava beijando uma garota, mas não podia me contar quem era. Meu Deus, quem será?" - Diário de 2002.
"O ciúme é um prova de amor, mas pode ser até letal e eu tenho provas e vivenciei coisas como essa. E quem acha que é fofo, só é até certo ponto." - Post do antigo blog Templo da keiko.
" O que posso dizer é que tudo parecia ter sido escrito por alguém ou o planejado pelo destino, antes da primeira lágrima ter caído como a ultima, daqueles que ainda choram..." - primeira tentativa da história do graal.
"Seus sentimentos se assemelhavam aos do homem. Ele ficava confuso, triste, alegre, ciumento, irritado, compreendia a fala humana com perfeição e tentava se expressar da melhor forma que pudesse para que seu dono o entendesse. Ele até gostaria de acreditar que era humano ou já havia sido, mas tudo aquilo não era prova o suficiente. Só que de uns tempos para cá ele estava com mais certeza deste fato. Ele estava apaixonado." - Conto Presente de Anjo.
No final, esse post não tem sentido.

É o fundo do poço, é o fim do caminho.No rosto o desgosto, é um pouco sozinho. (Águas de Março - Tom Jobim)

domingo, 26 de abril de 2009

Vislumbro da eternidade

Quando o suspiro da morte passa por nosso corpo, já começamos a sentir o peso das pálpebras se fecharem a caminho do sono eterno. Ao contrário do senso comum, o que perpassa por nossa mente é uma sensação de descanso e liberdade. Uma sensação feliz da aproximação do nada, do cinza eterno.
Sempre soube que minha morte seria uma morte prazerosa. Afinal sempre a desejara. Desde os meus dezessete anos e essa de vontade não mudou um único dia mesmo depois de sete séculos. Por isso, sentindo os últimos instantes da minha vida e a energia do meu corpo juntando-se a natureza para completá-la, eu conseguia sorrir, ou melhor, queria sorrir.
Estava sentada no meio do jardim da minha humilde casa, pequena e aconchegante, onde havia criado todos os meus filhos, netos e até o marido, onde minha mãe havia me criado e criados meus filho e assim por diante; o banco de madeira no meio dos girassóis sempre fora meu lugar favorito naquela casa. Minha memória mais preciosa estava aqui. Então, nos meus dezessete anos já havia decidido que era aqui que eu iria morrer. Então sorri.
Escutei o soluço, com esforço dos meus noventa e sete anos virei para enxergar minha netinha, minha querida criança soluçando perante a minha partida e com esforço toquei na ponta dos seus dedos pregados com força no banco em que sentara.
- Querida, não chore. – falei com toda minha força, tentando-lhe passar confiança.
-Mas vovó... - ela soluçou. - A senhora está partindo, o que eu irei---
Eu a interrompi. –Escute querida. - pausei e respirei para continuar, sentia minha vista cada vez mais escura. – Entendo o que está sentindo, mas vovó está muito feliz agora, o sonho dela está realizando.
-Eu não entendo isso!- ela sibilou com raiva. –Como você pode estar feliz em morrer? Em abandonar sua família? Em me abandonar?
Vi minha garotinha encostar a cabeça nos joelhos e soluçar ainda mais alto. Como eu amava aquela garota. De todos, com certeza seria quem eu mais sentiria falta. Entretanto, no fundo do meu coração sabia que ela me entendia, que ela era como eu. Então toquei seu ombro, mesmo com a dor do cansaço físico me corroendo. Então falei:
-Minha menina, quando tinha sua idade, eu perdi a pessoa mais importante para mim. -ela me olhou confusa. –Sim, eu perdi meu primeiro e único amor, neste mesmo lugar.
-Vovó, você nunca me disse...
Eu sorri. – Querida, essa é uma história tão enraizada, a qual é difícil até de pensar sobre ela. – tossi um pouco e voltei a falar. –E por mais estranho que pareço, nunca deixei de pensar nela, nem sequer um dia.
Naquele mesmo banco, eu conheci a pessoa que havia me salvado de todas as dores de uma juventude solitária e incompreendida. Talvez algo comum a qualquer jovem, porém, quando sentimos um amor tão ardente e profundo quanto o que senti, ficamos com marcas para toda a vida.
Ele havia sido tudo: amigo, amante, companheiro, aspirante, louco, inimigo, rival. Tudo. Uma mistura de sentimentos conflitantes culminando em um desejo louco de permanecer em um silêncio mútuo infinito. Era um laço apenas nosso e nesse banco havíamos nos conhecido ao meio dia em um dia de sol e nesse mesmo lugar, em um meio dia dissemos adeus.
Quando o conheci já sabia que o fim já estava determinado. Ele era doente. Entretanto, quando estamos sós não temos o luxo de escolher quem iremos gostar, pois o desespero de estar sozinho é maior em relação à covardia do sofrimento posterior. Mais tinha algo mais, era impossível não ter. Pelo menos para mim, a carregadora de uma promessa por toda uma existência.
-Antes de conhecer seu avô, antes da loucura da minha mãe, eu aprendi o que era amar intensamente e isso nunca morreu. – sorri para ela. –No entanto, querida... Perdi essa pessoa neste mesmo lugar e a única coisa que pude fazer foi segurar a sua mão e esperar o fim.
Ela soluçou. – Mas vó...
-Antes de ele morrer, fizemos uma promessa. - suspirei – Que eu morreria para encontrar com ele.
-Então porque não se matou?!-ela perguntou com raiva.
-Ele pediu para eu viver a vida que ele não tinha vivido e me disse algo mais: “as pessoas nunca morrem de verdade, se os vivos jamais se esquecerem delas, eles esperarão pela eternidade”.
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto sobre as rugas da idade. Lembrava de sua feição antes da morte. O vislumbre da eternidade pregado em seus olhos e o calor se esvaindo de seu corpo, além do nosso amor juntando-se aos objetos e perdendo o vínculo de nossos corpos. Lembro com havia doído, entretanto nenhuma dor me fez perder a confiança de vê-lo.
E nesse momento de reminiscências, pude sentir minha vista ficar escura e com a última força segurei a mão da minha menina. Senti a voz dela me chamando em desespero, mas o som cada vez ficava mais longínquo. O calor da vida se despedia do meu corpo, só que outro calor estranhamente forte invadia: o da morte. E o sentimento de renascer começava em mim. Era tudo cinzas.
E em um ultimo suspiro falei:
-Não se esqueça dos mortos, pois eles vivem na eternidade.
E mergulhei na escuridão.
Era como se estivesse sem respirar debaixo de um oceano quente, pegando fogo. Estava inerte, lavada pela correnteza de calor, pela escuridão cegante. Havia um alivio. Porém, alguns minutos depois, ou horas, ou dias, senti uma energia e uma vontade, então abri os olhos.
Pude enxergar com clareza, me sentia nova e revigorada. Estava sentada e olhei para minhas mãos onde me apoiava, não estavam enrugadas, estavam novas. Com um susto, toquei meu rosto, estava novo e peguei nos meus cabelos, compridos, escuros e sedosos. Parecia ter dezessete de novo.
Então levantei e olhei para trás. Vislumbrei a eternidade, o amor e minha felicidade novamente.



O que mantém dois humanos juntos é o fato deles acreditarem um no outro. (Nana - Ai Yazawa)