domingo, 19 de julho de 2009

Vitrine


A casa era deslumbrante, esculpida em detalhes dourados combinando com a coloração das janelas, ainda mais aquela em especial. Sim, aquela com a cortina alva de renda que balançava com o menor soprar do vento e era lá onde estava a moça. A mais bela de todas.
Na metade de todas as manhãs, ela aparecia na janela, encantando a todos com seu olhar, sua voz, seu cabelos, a pele, seus lábios... Quase perfeita.
E ficava apenas lá, até metade do dia com pequenas trocas de palavras com todos dispostos a ouvi-la no meio de sorrisos e amabilidades, depois se retirava.
No entanto, ninguém se aproximava dela o suficiente. Todos lhe dirigiam a fala nos meados do jardim, sem nunca entrar na casa. Haviam milhares de pretendentes ou amigos, sem nunca deixá-la só. Ela apenas sorria, gentil a todos.
Mas como era apenas quase perfeita, a estranheza em torno da moça se traduzia com o silêncio dos indivíduos que entravam e saiam da casa. Nunca. Nenhuma palavra. Nenhuma identidade. Nada.
Cansado de apenas admirá-la na minha paixão platônica ou morrer de inveja de todos os homem sortudos por escutar a voz da minha donzela, tomei coragem e me aproximei. Ela sorriu para mim, como para qualquer um, e ainda meu deixei levar com o coração acelerado e o suor nas mãos.
Eu precisava lhe tocar a face, sentir seu perfume, alcançá-la.
E rompendo todas as barreiras em uma atitude sem precedentes, empurrei a porta. E só consegui enxergar a donzela sair correndo da janela com medo. Entrei na casa. Negra e gélida, tortuosa e cheia de escadas. Subi, corri e procurei. E no momento seguinte, estava em um beco sem saída, mas ela estava lá.
Uma lágrima caiu de seus olhos. Indefesa, frágil e fraca. Digna de pena.
Tentei me aproximar, ela tremeu. Sabia que podia feri-la ou a quebrá-la. Tamanha magreza. Tremendo de medo. Comecei a chorar junto com ela. E em voz romântica, digo, meu coração foi partido. Não havia meu amor, não havia nem uma mulher. Apenas um vazio.

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