Andava de óculos, circulava pelo mundo. Meus joelhos deram nós. A terra descamava tudo que ainda tinha para me cobrir. Olhos me seguiam hora à hora. Era gramado, asfalto, barro. Eram todos os caminhos e todos os olhos. E eu me preocupava em ver aquele reflexo em ângulo obtuso, um fio de cabelo no meio da comida, os borrões de todos os movimentos à minha volta. Nada tão grande, nada tão novo. E as vezes perguntava a Deus se ele me escutava. Mas perguntar a Deus é apenas uma retórica. Vou imaginando filmes, livros, fotos, músicas que eu gostaria de ter feito e não vou fazer. Não por ser medíocre. Olhar o mundo já ocupava tempo demais. E eu me deixava passar. E me passando pela vida, ceguei. Deus comeu os meus olhos e vomitou a magoa do mundo.
O que falar diante de uma reflexão onde os olhos foram comidos por Deus?
ResponderExcluirBela é a instrospecção contida em cada palavra, exposta principalmente em "Olhar o mundo já ocupava tempo demais. E eu me deixava passar. E me passando pele vida, ceguei".
Gosto da sua escrita. Faz-me lembra Clarice. Por isso estou seguindo você.
Obrigado por seguir a Literatura do Porto.
Abraço!!!
é que seu olhar é divino
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