segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Paraíso


Sentia os pedaços de si ficarem para trás a cada passo e novos pedaços se juntavam. Sem objetivo, apenas com um mapa na mão, pegou sua mochila e saiu. Não era cansaço. Nem se atrevia pensar em fuga. Deixou os arredores da cidade, limpou os pulmões do ar que lhe comprimia.
Pediu carona na estrada, sentiu o cheiro do eucalipto no lugar da velha vegetação. Andou um pouco mais, viu a relva e orvalho. Virgens. Fez amigos, aprendeu a tocar gaita. Melodias jamais repetidas. Ficou bêbado de licor ou fez licor para bêbado. Sorriu em intimidade para a sua neguinha. Apenas um único dia. Andou mais, andou até suas pernas tinirem de caimbra. Só queria saber até onde poderia ir.
Sem aviso. O céu lhe engolia. Viu a grande linha, azul em diversos tons. Quis chorar. Ele havia descoberto. Seu momento pleno, com o vento lhe cortando a face e o sol lhe machucava os olhos. Era o fim. E não havia nada. Encontro do eco.
Finalmente, entendeu. Em sua busca ou não, seu conflito com o mapa, viu a relevância. Era a solidão alegre, daquelas que só vem uma vez. Então ele podia voltar. Lembrou-se, daquilo que demorava a aquecer e sempre esfriava depois. Palavras que ainda estão lá.
Não, ele não podia voltar. Ele queria voltar.

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