domingo, 16 de agosto de 2009

Infinito

As três e meia da manhã, em plena terça-feira eles conversavam. No ápice de sua pequena ignorância juvenil, acreditavam o quanto aquela situação os faziam parecer diferentes, cultos. Não que os fizesse de verdade.
Havia metade de uma garrafa de vinho no chão, roubado dos pais e um único cigarro no chão, eles não conseguiram fumá-lo. E em uma ressaca pós nada, eles estavam sentados nos lados opostos do sofá de cocha xadrez, no meio da sala com as pernas embaralhadas. E os olhares denunciavam o apelo sexual de toda a situação.
Porém, ainda inocentes não sabiam levar aquilo adiante. Ficaram apenas trocando palavras desesperadamente sem sentido. "Minha vida é tão vazia" ou então, "Eu sei que eu tenho o direito de aguentar ou morrer, talvez..." ou ainda "A dor vem em estágios, preciso de alguém para me salvar" - todas as falas de jovens presos na melancolia barata.
Ela estava enjoada desse lado infantil mal agradecido dele. E ele estava frustrado com a posição de vítima dela.
Só que situação era charmosa demais. Proibitiva. E os olhares, não podiam negá-los. Não estavam entregues a paixão, muito menos se amavam, nem sabiam se eram amigos. Estavam apenas ali, vivendo um segundo após o outro, curtindo o tempo passar em segundo tão longos de um minuto tão curto, em uma combinação de afeição e ódio, com a violência trancada em seus corpos e abandonada no pensamento sem nexo. Só sabiam que ficariam ali um segundo a mais, um segundo eterno. Pelo menos até amanhecer.

Um comentário:

  1. ui

    eu estou tão desiludido que são só nos teus textos que eu vejo um coisa bonitinha acontecer de verdade... SAIUHASDIOU

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