quarta-feira, 25 de maio de 2011

Amor

-Miminha, os ratos te deixam dormir a noite?
-De que ratos fala? Não tem rato nenhum aqui em casa.
-Os ratos no quarto da mamãe! Eles batem na cama e na parede, mordem ela, mamãe geme de dor. Não consigo dormir com tanto barulho!
-Não, Dudu, seu bobo! Aquilo no quarto da mamãe não é rato. Aquilo é amor.
-Amor?
-Sim, amor!
-Então porque o amor vai embora quando papai volta?

sábado, 14 de maio de 2011

João amava Teresa

Mas amava também amélia, daniela, maria, alice, raissa, manoela, giovana e tantas outras. Tereza sabia dividir o amor de João. E ao se juntar na quadrilha, dançava com todos, não era de João, jamais seria de alguém. E também na quadrilha, João se enciumava por Tereza não ser sua, ou não tanto quanto gostaria que fosse como todas as outras eram. As palavras que Drummond um dia disse, Tereza as sentia na pele, João partiu para terras distantes, e as tantas outras foram para o convento, morreram de desastre, casaram-se. Só ela, Tereza, que escapara do fim fatídico que a literatura lhe destinava. Então desejou ter pelo menos ter uma vida com final de filme.

domingo, 1 de maio de 2011

E como um anjo pendeu

Um mundo de gente iria olhar para mim com pena e querer me abraçar e beijar e tocar em mim com mais pena ainda. Só queria ficar quieta e encolhida, chorar e gritar exatamente como fiz no chuveiro, esmurrando os azulejos e dobrando o corpo sem força como se ele fosse escorrer pelo ralo. Parecia possível possível escorrer tudo de mim e ao olhar dentro só havia aquilo, aquela dor, aquela queda infinita e continua para dentro de mim, sem gravidade, sem nada, só aquele vácuo sufocante. Minha dor transbordava em meus olhos vermelhos de choro e sono. Meus olhos vermelhos procurando por pelo menos um pedaço do que poderia ser eu. Mas já havia me perdido na queda.