quarta-feira, 13 de abril de 2011

Os pés tortos de Deus

Andava de óculos, circulava pelo mundo. Meus joelhos deram nós. A terra descamava tudo que ainda tinha para me cobrir. Olhos me seguiam hora à hora. Era gramado, asfalto, barro. Eram todos os caminhos e todos os olhos. E eu me preocupava em ver aquele reflexo em ângulo obtuso, um fio de cabelo no meio da comida, os borrões de todos os movimentos à minha volta. Nada tão grande, nada tão novo. E as vezes perguntava a Deus se ele me escutava. Mas perguntar a Deus é apenas uma retórica. Vou imaginando filmes, livros, fotos, músicas que eu gostaria de ter feito e não vou fazer. Não por ser medíocre. Olhar o mundo já ocupava tempo demais. E eu me deixava passar. E me passando pela vida, ceguei. Deus comeu os meus olhos e vomitou a magoa do mundo.