domingo, 25 de julho de 2010

Ascendente em Peixes

Sempre gostei de pensar que era um peixe preso dentro de um aquário quando não conseguia respirar. Tinha acabado de apertar o botão do sétimo andar, as portas do elevador se fecharam e aquele aperto no peito tão conhecido começou. Era o peixe, nadava desesperado e se batia no vidro, sem achar saída, quase sem forças para nadar.
O ar a minha volta desaparecia. Arfei em busca de algum vestígio, mas nada. Minha garganta estava sufocada com pedras. Sentei no chão as pernas tremendo. As paredes de vidro eram demasiadamente opressoras, já me impediam do infinito do mar.
Comecei a procurar na minha bolsa um saco de papel. Só consegui hiperventilar cada vez mais. São aqueles dias que exatamente tudo sai errado para nos lembrar como somos fracassados. E agora estou aqui, com o meu salto quebrado, quase chegando na porta de casa e sem sequer conseguir sair do lugar. Sem um único salvador. E ainda desprezo a ideia de precisar de alguém para me socorrer. O aquário é demasiadamente pequeno para outro peixe.
O paradoxo é, eu sou a única que pode me salvar. Nadar até o oceano, dentro dessa metáfora tão pobre. Apenas me acalmar ou desmaiar de vez. E, o que eu faço? Começo a pensar na ligação da minha mãe ontem a noite para reclamar sobre a filha de trinta anos solteira e sem emprego fixo; na conversa hipócrita no escritório onde fiz um bico, sobre aceitar os outros, quando ao se pensar que é preciso aceitar já é não aceitar - aquelas hipocrisias do dia-a-dia; ou pior, como o molho do macarrão do almoço manchou a minha blusa branca. Tudo tão adequado.
A porta do elevador abriu. Não consegui levantar os olhos, só sabia que estava salva. E inútil. Senti o cheiro de Carlton. Já conseguia respirar. E mesmo arfando, tentei sorri. Saiu esdrúxulo, eu tenho certeza. Só que, por um instante, a vida no aquário não pareceu tão ruim. Aquele cheiro aqueceu meu corpo. E se viver num aquário significasse sentir isso, não me incomodaria de deixar de respirar. Para sempre.

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