domingo, 22 de novembro de 2009

Negrito da Dor

Minha imaginação pueril não permite ver a reação se alguém pudesse me ver agora. Qualquer um. Não sei por onde começaria a olhar, talvez pelos meus olhos, mesmo que eu mal possa ver.
Sim, meu olhos. A expressão lágrimas de sangue cabe perfeitamente, já que as pequenas agulhas sem linhas perfuram a pele das minhas pálpebras, tocam o glóbulo e no esquerdo a íris. Não posso ver com esse olho. E o contato de piscar ou simplesmente fecha-los para me entregar ao sono provoca o sangue que saí e se espelha pela minha face. Porém, não há agulhas apenas nos meus olhos, minha boca é praticamente costurada, só consigo balbuciar poucas palavras com as pequenas feridas que já criaram cicatrizes, as quais não sangram mais. Meus lábios já não tem mais coloração.
Há pregos no meu nariz, mal respiro. Como há pregos por todo o meu corpo, não posso sentar, andar ou deitar sem sentir o mínimo de dor, ou sair pequenos bolsões de sangue de mim, que se espalham pelo cômodo escuro e sem objetos. Assim, os pregos, agulhas que cobrem todo o meu corpo me ferem menos.
Acho que perguntariam, você nasceu assim? E minha memória me engana, a retalhos vagos e não me vi crescer, só lembro da constante dor que carrego sobre minha pele, desde sempre. E dentro do meu corpo, sim, dentro. Um desses retalhos de memórias foi a vez que vomitei e vários pregos saíram pela minha garganta, cortando as paredes e se prendendo ainda mais em mim.
Talvez, se tivesse direito a realizar um desejo seria retirar os pregos de diversos formatos e tamanho das solas dos meus pés. A cada passo dado, os pedaços de metais entram mais na minha pele e nunca param. Mais e mais. E fico sem andar, imóvel, preso.
Já desisti de pedir o fim dessa dor. Só há duas alternativas, vivo com essa ínfima dor ou retiro esses males e morro com o sangue do meu corpo derramado pelo chão, invisível para qualquer um.

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