quinta-feira, 15 de novembro de 2012

sábado, 16 de junho de 2012

Fogo na mala

Lá pelo meio da tarde, decidiu que hoje dormiria morta. Sua decisão não foi ao acaso. Estava à meses tecendo sua história até o dia fatídico. E o seu fim seria como todos os fins devem ser: melodramáticos, sem avisos prévios e no mês de junho. Quando decidiu depois do almoço, fez como toda boa filha deveria fazer, uma ligação para a mãe no interior chorando no telefone e dizendo todo o blábláblá sobre o quanto a amava. Gostava de como soava convincente em sua despedida. Pensou em ligar para mais algumas pessoas, mas preferiu fazer o que sempre sonhara, jogar seu aparelho pela janela. Não voltou ao emprego, pôs os pés para cima e assistiu Video Show e o começo do Vale a pena ver de novo. Quase caiu no sono. Um erro letal, seu sono agora seria eterno. Abriu o armário, quebrou as maquiagens, rasgou os vestidos e o véu de noiva que fora de sua avó. Queimou fotos. Essa foi a melhor parte. Queimou todas desejando a cada ex-namorado um fim trágico diferente. Comeu maçã, tomou chá. Usou o vibrador antes de jogá-lo na pilha acumulada de lixo na cozinha. Quebrou copos, pratos. Rasgou mais roupas. Limpou o apartamento. Deixou um bilhete. Ouviu uma música do Nirvana. Ouviu uma música da Celine Dion e chorou. Chorou mais um pouco pensando no sobrinho que iria nascer em Setembro. Ligou para o primeiro namorado e desligou quando ele atendeu. Bebeu vodca. Fumou um Derby velho que encontrou na bolsa. Chorou só mais um pouco. Assistiu o jornal. Sabia mais quando não sabia nada. Tomou um banho e usou sabonete de rosas. Mortos deveriam cheirar bem. Pôs lençóis brancos na cama. Pensou em comprar flores, mas já estava tarde e os outros fariam isso. Deitou. Desistiu do mundo. Suspirou. Fechou os olhos.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Morena Toada


 "Tanta saudade eu já senti, morena
Mas foi coisa tão bonita
Da vida, nunca vou me arrepender"
Toada - Boca Livre


Morena, não te chamo mais para ouvir minha cantiga. Vou sair só para uma vida aventureira. Seu choro e seu ciúme já não chegam nesse coração sereno. Nossa saudade já não é mais bonita. E essa cantiga vai se esquecendo no vinil. É, Morena, você que sempre esteve no sublime, que sempre foi artista, já não me encanta mais. Não me instiga mais. E aquele carinho, do vem aqui, não cabe mais na viola. Minhas cantigas não são mais tuas. E o Morena, tão poético, tão menino, que lhe dei, quero tomar-lhe. O que sobrou para ti é aquele lenço bordado para chorar com minha partida. Mas eu tenho outros lenços e eu tenho outras moças. É Morena, minha cantiga não será mais tua. Não quero suas lágrimas me acusando do que não fiz. Não quero medir mais meias palavras. Não existem meias palavras na música. Não serei mais teu. Vou me aventurar pelo mundo. É, Morena, você vai virar toada. Vou me aventurar pelo mundo.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Nolita blues


Nolita queria morrer antes dos 30. Como estrela de rock, sem ser mulher  Balzaquiana. Nolita já tinha enjoado de contos de fadas e de cheirar pó no café da manhã. Tinha cansado de procurar o ex-namorado e de sexo à três. Não escutava mais música pop e nem sua mente lhe oferecia o silêncio. Nolita tinha desistido no seu vício em antibióticos e na coleção de abortos na área de serviço. Nolita não lia mais livros de Jane Austen ou chorava assistindo Titanic. Não usava mais batom vermelho ou perfume. Nolita não era mais egoísta ou se quer era outra coisa. Nolita só queria morrer antes dos trinta. Só não queria ver a merda da sua vida escorrer pelo ralo do banheiro. Só não queria se ver chorando no chão em tardes de chuva. Nolita só queria morrer.




terça-feira, 8 de maio de 2012

Texto N° 100

De volta as atividades, este texto demorou de sair pois é um suvenir de um amigo e escritor que admiro, Alex Pitta. Além das mudanças de ares. É um momento de renovar e a agradecer à todos que acompanham!


Eu, planalto

Quando você se foi naquela derradeira ferida, ainda deixei cair sobre seu corpo o desespero de mãos trêmulas. Arrastando-te, elas tocaram o que escorria, tingindo o nada de minha dureza. Eu olhava disformes pedras que me cercam enquanto gritava no vasto verde. E surdo fiquei no meu próprio vácuo vermelho.

As lágrimas turvam a vida que escorrega numa triste valsa de finas gotas tempestuosas e dentes rangem o terremoto num vale outrora alta terra. Caída você está. E sinto o pior chão.

O céu se desfaz do azul ao desenhar um amarelo sol de partida. Sua face era o vento que dançava no meu topo. Agora se esvai no sopro que me desgasta todo dia, eternamente, sobrando sedimentos. E minhas ruínas são levadas para um qualquer-lugar, sempre distante de mim. De você.

www.alexpitta.com.br

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Sem Farsas, sem esperanças

Sou Ana, sou Amélia, sou Gabriela. E como sempre vou falar de amor e inventar mentirinhas sobre mim em outro texto confessional. Ou não tanto. Quero falar pouco, falar baixo e falar para dentro. Falar para dentro porque é isso que fazemos, falar para nos mesmos e contar histórinhas, mentirinhas. É tudo muita literatura. Pois Ana, tantas vezes escrita, com cara de anagrama, voltada para sí mesma, inventa e cria todas as histórias e todos os motivos para se amar. Aquela música daquele beijo, aquela frase e aquele porquê que nunca existiu. Amélia, como todo boa Amélia, morre de amores e acredita em todas as palavras de Ana. Ana é artista. Pinta o quadro de cores primárias, escreve a novela de beijo sabor jujuba e conta casos de Jane Austin. Amélia, perdida dentro de si e dentro de Ana, acredita em todos esses amores e todas essas histórias, que são histórias vividas, histórias sentidas, mas histórias feitas para parecerem mais bonitas do que realmente são. Não sei que tipo de texto é esse, nem sei quem o escreve. Gabriela anda no meio disso tudo. O ruim é quando se enxerga a farsa que Ana, Amélia e Gabriela são.

Agradeço a Isadora Alves e sua narrativa de um dia por minhas motivações: http://beautyandblove.blogspot.com/2012/02/sem-falsas-esperancas.html

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Segredos alinhados

Eu perco o chão
Eu não acho as palavras
Eu ando tão triste
Eu ando pela sala
Metade -   Adriana Calcanhoto

-Você sabe que eu não sei escrever diálogos e já estou enjoada de escrever esses textos de amor.

-Então porque faz isso?

-Porque só sei falar do mesmo.. Não, não! Reticências eu não uso. Porque só sei falar do mesmo e tenho que tentar falar do mesmo de outras formas.

-Aliais, o que faz aqui no meu monólogo?

-Não era um diálogo?

-Não, é um monólogo sobre o que eu penso sobre você, sobre o amor, sobre clichê e sobre reticências. Nada muito novo.

-Então ficarei calado.

-Pois bem. *Cof, cof* Sabe, quando você segura meu cabelo e eu me derreto toda em amor, sabe? Mas na mesma hora você não responde uma pergunta ou todo o mundo parece mais interessante que eu? Sabe, sabe? Responde, para de olhar assim!

-Não era para eu ficar calado?

-Isso já deu errado muito tempo. Pois bem, nessas horas que meu coração vai se esmigalhando entre te amar e em viver das migalhas que me dá. Penso que quando nos casarmos e tenhamos nsosos filhos, eu não estarei me perguntando porque eu insisto em eme magoar para receber apenas suas migalhas? Você só me olha assim, como se eu falasse em alemão e sofresse de histeria.

-Não sei mesmo. Acho que toda essa migalha e todo esse amor são exatamentes o esteriótipo de mulher que você escreve em seus textos.

-Eu sei disso. Eu que estou escrevendo. Eu que escrevo você.

-Então se sabe desse clichê, desse amor, das reticências. Por que teima em recriminá-los se é tão necessário para que se sinta tão você?

-Porque eu sei que posso usar reticências da maneira certa. Podia me encher delas. Aqui ... ... ... ... ... ... ... Milhões delas para você. Eu e você somos o que eu escrevo. E aqui, onde posso usar todas as reticências e fazer o que eu quero, eu escolho. Escolho que sofrer por amor é o meu luxo.