sábado, 16 de junho de 2012

Fogo na mala

Lá pelo meio da tarde, decidiu que hoje dormiria morta. Sua decisão não foi ao acaso. Estava à meses tecendo sua história até o dia fatídico. E o seu fim seria como todos os fins devem ser: melodramáticos, sem avisos prévios e no mês de junho. Quando decidiu depois do almoço, fez como toda boa filha deveria fazer, uma ligação para a mãe no interior chorando no telefone e dizendo todo o blábláblá sobre o quanto a amava. Gostava de como soava convincente em sua despedida. Pensou em ligar para mais algumas pessoas, mas preferiu fazer o que sempre sonhara, jogar seu aparelho pela janela. Não voltou ao emprego, pôs os pés para cima e assistiu Video Show e o começo do Vale a pena ver de novo. Quase caiu no sono. Um erro letal, seu sono agora seria eterno. Abriu o armário, quebrou as maquiagens, rasgou os vestidos e o véu de noiva que fora de sua avó. Queimou fotos. Essa foi a melhor parte. Queimou todas desejando a cada ex-namorado um fim trágico diferente. Comeu maçã, tomou chá. Usou o vibrador antes de jogá-lo na pilha acumulada de lixo na cozinha. Quebrou copos, pratos. Rasgou mais roupas. Limpou o apartamento. Deixou um bilhete. Ouviu uma música do Nirvana. Ouviu uma música da Celine Dion e chorou. Chorou mais um pouco pensando no sobrinho que iria nascer em Setembro. Ligou para o primeiro namorado e desligou quando ele atendeu. Bebeu vodca. Fumou um Derby velho que encontrou na bolsa. Chorou só mais um pouco. Assistiu o jornal. Sabia mais quando não sabia nada. Tomou um banho e usou sabonete de rosas. Mortos deveriam cheirar bem. Pôs lençóis brancos na cama. Pensou em comprar flores, mas já estava tarde e os outros fariam isso. Deitou. Desistiu do mundo. Suspirou. Fechou os olhos.