segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sobre inícios e fins

As ondas que quase encostavam nos meus pés. A brincadeira era não deixar. Bem, era tão pequena, acreditava poder pegar os céus com minhas mãos pequenas. Agarrar sua infinitude. Nessa mesma época, os garotos vizinhos eram meus melhores amigos e no Verão, andavamos descalços na porta de casa. Até o tempo que só consegui enxergar o telhado da minha casa. Todos somem, e digo que ficarei bem. Eu acredito que ficarei bem, mesmo sozinha. Minha história se torna atravessada. Minhas palavras se tornam atravessadas. Queria por a culpa em outra pessoa. Doí demais. E eu odeio.

O mistério depois das chuvas de Janeiro, eu deixo para qualquer gênio. Tiro tudo da minha cabeça e convido todos para comer meus biscoitos feito em casa. Não há tintas, nem pincéis, nem telas. Sou apenas capaz de chorar quando fico triste. Ou quando tudo em volta fica melancólico. O Outono vem. É Inverno outra vez. Já se passou mais um ano. Muda. Minha história não acaba e eu só posso forçar um sorriso. É covardia demais. E eu odeio.

Durante a Primavera sempre pedi o céus a mesma coisa. Quase um mantra. Desejei sufocá-los. Desejei depender deles. E depois, desejei deixar a todos, antes que me deixassem. Sempre soube, as pessoas amadas e os meus dias favoritos iriam desaparecer. O destino é tão cruel. Eu me agarro a você e as minhas lembranças suas. Tento te seguir, mesmo sabendo que você levantaria sua voz com raiva para mim. Só nós podemos preencher esse vazio. Mas eu já estou presa aqui, minhas pernas não tem mais força para andar. São erros demais. E eu odeio.

Dor. Covardia. Erros. Eu odeio tudo isso.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Café da Manhã

Ela era um dia diferente desses que eu costumo viver. O café quase frio misturado com o leite em pó, os gimbas de cigarro sobre a mesa, o dela de filtro branco e o meu amarelo, o jornal como um Muro de Berlim entre nos. O sol quente de Dezembro entrava no apartamento de dois cômodos junto com o barulho do trânsito do centro da cidade. Ela me disse que parecia uma despedida. Eu concordei. Ela pensava no casamento e eu no futebol. Ela pensava na alegria e eu no feriado. Era o final da manhã de domingo. Ela vestiu minha camisa favorita azul e saiu. Algo renascia. Não em mim. E pela janela eu a vi sair em ziguezague pelos carros. Mais radiante que o sol. Ele estava lá, e eu, já esquecido, apodrecia aos poucos.