domingo, 28 de novembro de 2010

Afetos














Lágrimas brotam na terra
Nascem pedras de ouros e pratas
Enfeita pescoço de moça
Realça a boca rosada
Sorri com os olhos
Sufoca as palavras.

domingo, 21 de novembro de 2010

Vênus e Jesus

Ela usava batom vermelho. Ele, óculos. Ela o conheceu com os cabelos grandes. Ele diz que ela não muda desde lá. Ela acordava com mal hálito. Ele tinha chulé. Ela só comia doces. Ele ficava bêbado aos domingos. Ela era aspirante a ser escritora. Ele um músico de final de semana. Ela chorava com o final da novela. Ele só chorava na frente dela. Ela queria ter uma filha. Ele não estava pronto para ser pai. Ela pintou as paredes da sala de laranja. Ele se assustou quando se mudou. Ela sempre tinha crise de risos depois do sexo. Ele dormia antes disso. Ela era de câncer. Ele duvidava de Deus. Ela havia beijado mais meninas que ele. Ele namorou com a Bianca, a Beatriz e a Bárbara. Ela não tinha namorado ninguém. Ele, um dia nublado. Ela, noite de lua nova. Ele não suportava o absurdo. Por isso, Ela acredita que era de Vênus. E Ele pede a Jesus que tire isso da cabeça dela.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Amantes

Bilhete ao Amado

Contemplo as imagens
Das ruas sempre a seguir
Em nós jamais desatados
Por uma bailarina de corda
Nas fotos desbotadas em Carmim
A valsa de rosas azuis
Que dancei até sobre espinhos
E ao contar os minutos longos de horas cur
Inventei-me, cansei de ti.

Carta à Amada

Caminhei sobre rodas, camelos e asas
Presenciei guerras, vitórias e pausas
Andei sobre mim, todos e mais ninguém
Ainda procuro os detalhes de azul, verde e prata
Da gota em folha de orvalho
Mas só encontro seu relicário
De magoas amargas de laranja
E em rubro tento renascer a dança
Envolver-me de ti.

domingo, 7 de novembro de 2010

Tiro na Lua

Deixei os assassinos dançando na sala e invadi o quarto sem portas da tua mente. Não faz sentido, mas tu nunca fizeste mesmo. Quebrei aquela janela no canto direito, antes semi aberta, e trouxe tudo que deixaste de fora dessas paredes brancas. Invadi como um câncer, o teu tumor forjado alguns anos atrás. Voltei para entrar nos armários, baús e prateleiras, alguns mais empoeirados, outros não. Tu me deste esse direito, mesmo em frente ao arrependimento, já é tarde. E depois de rever os portas retratos, as cartas com mais de mil perfumes, cadernos e livros, pego aquela caixa de sapatos que guardaste debaixo de tua cama. Sabia, nem tu lembravas dela. Ou finges não lembrar. E todas as vezes que tu me beijaste com os olhos abertos com os pensamentos nas bebidas e cigarros da boca de tantos outros. As vezes sentia o gosto. E todas as vezes que deixastes o gozo daquelas putas e viados na sua boca, eu me afogava e apodrecia dentro de teus lábios. Dentro de tuas mentiras. Quase me matou, mas tu nunca quiseste ser criminoso. E quando eu sair do quarto, os assassinos vão parar a dança e atirar por suas paredes, esburacando tua cabeça com balas de prata. E a única coisa restante será eu, ou a memória do meu riso te torturando aos poucos. Tu sabe, sempre soubeste, que seria teu câncer.