terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Aquele ou apenas dia

Um passo, apenas um de decidir-se entre o nada de ficar e nada de seguir adiante. De frente a uma avenida de asfalto negro, fervendo dos carros que passam tão rápido quanto balas e reluzem nos brilhos da cidade, que deixam um vácuo que deslaça o equilíbrio.
E ali, naquele ponto, não sabe se deve atravessar por todos aqueles obstáculos, as quatro faixas por tantos carros a mil por hora, para chegar a um outro lado, outro impossível de denoninar ou distinguir, só outro. Ou se vê seguindo em frente, pelo passeio comido dos passos de vários eu que perpassam. Soa tão sem sentido.
Meio caminho da escolha, não há bonito ou feio, ela ou ele já estará lá, ou ficou, ou foi, ou vai voltar ou apenas vai. Divaga-se em Dadaísmo, em paradoxos e fantasma, daquele segundo eterno de não saber se o corpo pensa, sente ou ama.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Pedaço de Dezembro

Escolhi me sentar no canto do restaurante. Estava um dia bastante quente, tanto que prendi meu cabelo em um nó. Bebi um gole de agua, que desceu seco. Me encostei na cadeira e fechei os olhos, as luzes já começavam a me incomodar. O tempo passou e eu não senti.
Ele chegou e me beijou no rosto, estava com aquele cheiro almiscado de colônia importada e sua calça bem passada. Começou a falar de banalidades e eu respondi, pelo menos tive a dignidade de disfarçar as respostas mêcanicas. Sempre as mesmas, como está? Bem. Onde passará o feriado? Em casa, preciso terminar a monografia. Você é tão compenetrada, sempre gostei disso em você. E assim vai, até chegar na conversa sobre saudades e romances. E era por isso que ele estava ali mesmo.
E enquanto ele contava histórias sobre as possíveis mulheres que transou, flertou e namorou nos ultimo ano, que provavelmente eram mentiras. Eu sabia, o conhecia melhor que ninguém e sabia que se tivesse vivido metade do que diz ter vivido não estaria comigo, afinal, nunca havia sido sua companhia favorita para ele perder uma noite inteira. E enquanto ele continuava, eu mexia meus pés para aliviar a dor dos sapatos apertados e mexia no cabelo, estava muito calor.
E ele parou um segundo, e fixou os olhos em mim esperando alguma reação de paixão. Eu quis rir. Mal ele sabia que eu já havia dado para tantos outros e só estava ali, naquela bendita noite, porque meus sapatos em incomodavam e estava me sentindo feia para dar para o próximo da fila e ele, coitadinho, estava lá disponível para mim. Para me acalentar e me chamar de amorzinho, e depois, inventaria qualquer desculpa e fugiria em direção a uma nova fuga.
E ele continuaria lá. Ou talvez eu que estivesse, já não sabia mais. Apenas sei que me levantei da cadeira, sussurrei uma obscenidade em seu ouvido e o beijei. E foi tão cheio de mormaço, aperto e tédio que fui embora, talvez definitivo.
Por sorte, assim que o deixei e atravessei aquele restaurante cheio, começou a chover. Fraco, depois torrencial e levou todo o mormaço embora. Então tirei meus sapatos de salto agulha e pisei descalça no asfalto. Meus pés despidos se banhavam com a chuva.