quarta-feira, 24 de junho de 2009

Meu Reflexo


Finalmente, eu entendi as palavras que me magoam
Foi no meio do isolamentento.
Não era tristeza,
Não era solidão,
Não era indiferença,
Muito menos ódio.
Era apenas uma mudança
Da minha pessoa para o meu ego
Daquilo que mais amo em mim.


Que pena,
Não posso mais ser inconsequente.
Never thought that you wanted to bring it down. I won't let it go down till we torch it ourselves. (Over my Head - The Fray)

sábado, 20 de junho de 2009

Perfeito


O calor do meio-dia invadiu o quarto, me impossibilitando de dormir. Sentei-me na cama e minha cabeça latejou, provavelmente pela bebida do dia anterior, não estou acostumada a beber. Ouvi um gemido e olhei para quem se deitava ao meu lado. Ainda não conseguia acreditar.
As costas largas levemente bronzeadas, mas quase brancas; definida com traços fortes, equilibrando com a leve definição de seus braços, a linha da coluna tinha um contorno delgado quase feminino sem nenhuma saliência, o que contrastava com com a largura de seu tórax com poucos pelos, o bastante para não parecer apenas um menino. Estava deitado de bruços, mostrando uma bundinha deliciosa que dava vontade de morder e assim o tinha feito na noite anterior, suas pernas fortes e cabeludas estavam escondidas pelo lençol.
Senti meu rosto arder ao pensar na melhor parte daquele homem.
O encaixe perfeito.
E tinha o rosto, com aqueles olhos azuis como faróis a noite, sedutores e irresistíveis. Seus cabelos eram desarrumados, macios e cacheados com um leve ar de displicência junto com a barba mal feita. Um detalhe: a barba o deixava com aparência de macho, reprodutor, bom de cama. O que ele era. O rosto era anguloso com um queixo forte e moldava perfeitamente com seu sorriso. Ah! Que sorriso. Os dentes perfeitos, lábios finos e avermelhados moldavam algo tão primoroso, meio sacana, que poderia fazer qualquer mulher ficar com as pernas bambas.
Eu sorri, aquele homem era um Deus. Não era alguém para uma mulher sem graça e sem peitos, como eu, estar dormindo na mesma cama. Suspirei, não conseguia parar de olha-lo.
Vi ele abrir os olhos lentamente e se levantar aos poucos. Vi suas costelas estalarem quando se espriguiçou e observei a forma como segurava o primeiro cigarro do dia. Ele deu um tragada e me olhou.
Tão intenso que senti o calor entre minhas pernas.
-Você é linda. -ele falou tocando o meu rosto.
Como a falsa que sou, abri um sorriso. Não precisa dizer essas coisas, eu sei que não são verdades. Nunca estaria no patamar desse homem. E já não me sinto mal por ser tão machista.
Yo me propongo ser de ti.Una víctima casi perfecta. (Las de la intuición - Shakira)
Um obrigado especial a Vanny que me deu a idéia para o texto no meio da minha crise de criatividade.

sábado, 6 de junho de 2009

Valsa


As mãos de Romeu estavam molhadas de suor e seu estômago revirou quando viu a figura de Julieta em sua frente. Ela estava tão ou mais nervosa. O sentimento de nostalgia tomou conta do casal, porém foi mais sereno do que esperavam. Ele levantou e a beijou na bochecha em cumprimento, convidando-a para sentar.
- O que gostaria de pedir? - Romeu perguntou.
-Café preto, sem açúcar. - Ela sorriu de volta.
Isso era tão Julieta, a única pessoa que tomava café puro. Eles riram disso, as lembranças retornando. Nem parecia que haviam passado dez anos desde a última vez que havia se visto. Até parecia um filme antigo, uma memória desgastada de um baile, de vestidos, de músicas e a valsa no salão.
-E então, como tem passado? O que tem feito da vida? Está trabalhando? - Ela perguntou.
-Você sempre faz muitas perguntas de vez?
-E você sempre me responde com outra pergunta.
Novamente riram. Era o salão novamente, a releitura de uma lembrança em que a valsa aproximaria dois corpos tímidos de duas crianças. E em plena juventude escondiam seus sentimentos que teimavam em transbordar no simples toque da dança, desenhando no cenário a inocência enquanto vislumbravam sobre o futuro. Apenas desejando que o momento durasse para sempre. Era uma promessa silenciosa e as testemunhas eram as luzes do salão.
-Você parece diferente. -falou Romeu.
-Mais feia ou bonita? - perguntou Julieta com graça. - Só cortei meu cabelo.
-Apenas diferente. - ele riu. - Talvez mais madura, Julieta.
Um choque percorreu a espinha dela e os pelos da nuca se arrepiaram. Aquela voz meio rouca chamando seu nome, um pouco mais firme agora. E ela observou, Romeu tinha uma aliança na mão direita. Era estranho pensar na dança que os havia colocado juntos. As palavras dele no meio daquele giro atordoante eram juras infantis, mas ao mesmo tempo intensas: "Espere Julieta, o dia em que eu irei dizer - pega sua mochila e vem comigo" e sairíam do salão sem rumo.
-E onde está o seu filhote? - Romeu perguntou.
-Foi comprar brinquedos com o pai. - ela falou com os olhos brilhantes. - Sinto saudades dele o tempo inteiro.
-Eu imagino.
O vento passou por eles e a tristeza de não precisar pensar em nada surgiu, a melancolia de saber que o tempo de ser irresponsável e agir impulsivamente havia passado. Assim, todas as promessas havia se desgastado. Não havia magoas, apenas saudade da valsa que inebriava os sentidos. Descobriram a dor de crescer e se perguntavam: O que era isso que não queriam perder?
A valsa havia parado, não havia mais música no salão.
Então as lágrimas viriam, porém perspicaz, Romeu agiu antes.
- Se eu pedisse para você fugir comigo agora, você fugiria?
Ela o olhou surpresa. O turbilhão de memórias não iria parar. Respirou fundo.
- Eu lhe pergunto a mesma coisa, Romeu. - Julieta sorriu. - Você fugiria comigo?
O sonho de todo adulto é voltar a sua infância, pois quanto mais longe as memórias ficam, mais preciosas elas se tornam. E por um único instante a música começou a tocar, as luzes do salão acenderam e eles deram as mãos. Talvez a valsa continuasse. Mas era apenas um talvez.



Mesmo que não possamos permanecer assim e sejamos levados pelo futuro, ela nunca irá mudar, nunca ficará manchada. (Honey & Clover)